Não vão por aí, por favor!
04-10-2016 - 20:06
 • Eunice Lourenço

Um ano depois das legislativas, continuamos a viver tempos politicamente interessantes. A esquerda vai gerindo as desconfianças dia a dia, a direita ainda não se reencontrou e começa a dar sinais de algum populismo perigoso para a democracia.

Na noite de 4 de Outubro de 2015, Portugal deparou-se com um resultado eleitoral que obrigava as instituições a funcionar, os partidos a negociar, os líderes a conversar. Vivemos naqueles dias politicamente muito interessantes. E continuamos a viver.

A solução governativa inesperada, inédita na nossa democracia está a funcionar, apesar de todas as desconfianças, inclusive apesar das desconfianças entre as partes que compõem a chamada “gerigonça”, que vive num processo de negociação permanente.

A prova de fogo da “gerigonça” é sempre a prova seguinte: O Orçamento de 2017, o próximo programa de estabilidade, a próxima decisão da Comissão europeia, as eleições autárquicas.

Do outro lado, os partidos que formavam a coligação que ganhou as eleições ainda não conseguiram ultrapassar a posição desconfortável de terem vencido, mas não governarem. O discurso da falta de legitimidade do Governo serviu para os primeiros tempos, mas depois caiu em desuso e, sobretudo o PSD, ainda não encontrou a sua nova narrativa.

O CDS conseguiu dar melhor a volta à situação, mudando de liderança e tentar ser um partido propositivo, apresentado ideias e mostrando o que faria de diferente. Mas o PSD parece enredado no labirinto de Pedro Passos Coelho e sem ver caminhos de saída. E, lamentavelmente, os dois partidos estão a dar sinais de alguma demagogia e populismo, que são sempre perigosos para a democracia.

O PSD anunciou um projecto de lei para tornar permanente o corte actual no financiamento partidário só para encostar o PS e obrigá-lo a tomar posição. O CDS propôs, tal como o Bloco de Esquerda, o fim da isenção do IMI dos partidos. Uma proposta que tinha sido lançada pela líder do CDS, Assunção Cristas, no auge da polémica sobre a isenção do património da Igreja, mas que é um caminho perigosos e não é consensual sequer dentro do seu partido. É preciso nunca esquecer que sem partidos não há democracia, sem partidos não há oposição.