Granada não desarmadilha o desacordo europeu sobre migrações
06-10-2023 - 20:55
 • José Pedro Frazão

As divergências sobre as novas regras europeias para lidar com as migrações permanecem evidentes a cada Conselho Europeu, seja ou não em modo formal. Da reunião dos líderes europeus de Granada saíram também cautelas com os calendários dos possíveis alargamentos.

Mesmo informais, os Conselhos Europeus permitem tomar o pulso aos assuntos mais delicados e mais uma vez Granada confirmou duas ideias: a entrada de novos países na União Europeia não será apressada e a pressa de chegar a um acordo sobre migrações continua a esbarrar num "muro" húngaro-polaco.

Em plena campanha eleitoral, o presidente da Polónia entrou na reunião a avisar que vinha para reforçar o veto a novas regras sobre migrações, reforçadas com um acordo alcançado por maioria qualificada acerca dos regulamentos a aplicar em situações de picos de afluência de migrantes às fronteiras europeias.

O entendimento foi contestado pela Polónia e pela Hungria que recusam aceitar que o tema seja decidido de outra forma que não uma unanimidade dos estados-membros da União Europeia.

"A Polónia tem um forte veto contra esta posição. Eu avisei muitos primeiros-ministros e, curiosamente, muitos concordam comigo. Mas eles têm medo deste ditame que vem de Bruxelas e Berlim. Não temos medo deste ditame", declarou à entrada o líder polaco Mateusz Morawiecki.

Estando num Conselho informal, o máximo que conseguiria seria travar o parágrafo sobre migrações no comunicado final, como veio a suceder, no que foi acompanhado pela Hungria.

Saudando o acordo – “um bom sinal, muito positivo”- o Presidente do Conselho Europeu lembrou que há mais a fazer, em particular na dimensão externa das migrações, pedindo “mais eficiência” no combate a grupos criminosos e “mais cooperação” na área do policiamento e da justiça.

Charles Michel sublinhou ainda a necessidade de abordar os chamados “países terceiros” como a Tunísia, cooperando com países de origem e de trânsito destes migrantes e garantindo o regresso de todos os têm de regressar a casa por não terem autorização para entrar em solo europeu

Por seu lado, Giorgia Meloni sinalizou a importância do combate a redes criminosas e propondo “associações estratégicas” com os países africanos de origem destes migrantes. A primeira-ministra italiana recebeu a presidente da Comissão Europeia há poucas semanas em Lampedusa e Ursula Von Der Leyen enfatizou em Granada a sua proposta de dez pontos deixada em Itália, incluindo uma “abordagem estrutural de médio e longo prazo”, cujo exemplo passa pelo memorando de entendimento recente assinado com a Tunísia.

A chefe do executivo comunitário lembrou que a União Europeia destina 150 mil milhões de euros para países africanos na estratégia “Global Gateway”. Von Der Leyen assinalou a importância das migrações regulares, que levaram 3,7 milhões de migrantes à União Europeia em 2022 e lembrou a deslocação do vice-presidente da Comissão Margaritis Schinas a países de origem como a Costa do Marfim, Senegal, ou Guiné, para travar as migrações irregulares a montante.

Próximos passos

Pedro Sánchez, primeiro-ministro ainda em funções e a lutar pela investidura em novo mandato, encontra aqui o grande teste da Presidência Espanhola, num tempo em que a organização rotativa dos trabalhos permite apenas pôr em campo a capacidade de diálogo e de consensos para aprovar diplomas.

A maioria dos líderes europeus pretende fechar o Pacto das Migrações ainda este ano, de forma a não transitar para o semestre - de presidência belga - que irá dar lugar às eleições europeias de 2024.

Por curiosidade, os semestres depois da ida dos europeus às urnas serão presididos pela Hungria e depois pela Polónia. Para este efeito, Charles Michel garantiu que o tema não vai sair das agendas do Conselho Europeu, voltando a constar da ordem de trabalhos da reunião de dezembro.

É um processo que vai cruzar-se com os passos decisivos do alargamento da União Europeia. O comunicado da Cimeira de Granada refere que os países que pretendem aderir à União Europeia “têm de intensificar os seus esforços de reforma, nomeadamente no domínio do Estado de direito”.

Em cima da mesa está também a necessidade de um “trabalho de base necessário a nível interno” na União Europeia “bem como as reformas necessárias”. O Presidente lituano alertou, no entanto, que “primeiro precisamos de tomar decisões sobre o alargamento europeu e só depois devemos falar de reformas institucionais”.

No início de novembro, a Comissão Europeia deve publicar o seu relatório anual sobre as candidaturas à União Europeia. As recomendações de Bruxelas vão constar da agenda do Conselho Europeu de Dezembro.