Roménia assiste ao conflito. "Há o medo de que não acabe na Ucrânia. Que seja só o início"
25-02-2022 - 05:15
 • Inês Braga Sampaio

Paula Fratila manifesta à Renascença o desejo de que a Rússia "se meta na sua vida" e que o conflito não passe a fronteira. Albergar forças militares da NATO dá segurança, mas também pinta um alvo nas costas da Roménia.

Com a invasão da Ucrânia, os países circundantes, que já pertenceram à União Soviética, temem ser os próximos alvos de agressão da Rússia. Na Roménia, que acaba de receber um milhar de militares norte-americanos, reina o desconforto de não saber se o conflito vai atravessar a fronteira.

Paula Fratila, cidadã romena, de 35 anos, vive na cidade Sibiu, na região da Transilvânia, com uma base militar nos arredores da cidade e outra, que costuma ser utilizada para exercícios da NATO, em Getica, a duas horas de distância.

Em entrevista à Renascença, Paula admite viver com uma "incrível sensação de desconforto" e que se tornou impossível ignorar a tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou, na madrugada de quinta-feira, com a invasão da região de Donbass.

"Por um lado, tens esperança de que a situação se resolva e que todos, e com todos quero dizer a Rússia, se metam na sua vida. Por outro, sentes que isto pode tornar-se uma bola de neve. Mesmo que tentes manter uma atitude positiva e que esperes que as pessoas vejam a razão, penso que, no fundo, há este medo de que não vá acabar com a Ucrânia. De que seja só o início", confessa.

Como habitantes de um país vizinho da Ucrânia, apesar da segurança de pertencer à NATO, os romenos temem que a Rússia "possa não parar por aqui". Paula recorda que Moscovo assegurou, inicialmente, que estava apenas a conduzir exercícios militares e que não invadiria a Ucrânia. Garantia que não se cumpriu.

"Não podemos confiar no que dizem. Tememos que todos os países vizinhos da Ucrânia, todo o bloco da Europa de Leste, esteja sob ameaça. O medo está aí, mesmo que tentes ignorá-lo."

Quem foge à guerra tem sido aconselhado, nomeadamente pela Embaixada de Portugal, a escapar da Ucrânia pela Polónia e pela Roménia. Paula apoia, independentemente da possibilidade de haver represálias: "Não se fecha a porta na cara das pessoas na sua hora de necessidade."

Vizinhos da Ucrânia e membros da NATO, "uma faca de dois gumes"


Ter duas bases militares ao lado e outra, a oito horas de distância, que tem recebido tropas da NATO, transmite um misto de segurança e risco.

Para Paula Fratila, ser membro da NATO "é uma espada de dois gumes". A cidadã romena assinala que dá "uma sensação de segurança, ou ilusão disso", mas que também há o medo de ser dano colateral do conflito de outrem.

"Torna-te uma espécie de alvo. Porque se tens uma base da NATO tão perto da zona de conflito, faz sentido que sejam enviadas tropas através do teu país e que seja usado como rampa de lançamento para o combate. Espero que não chegue a isso", salienta.

A Rússia lançou, na madrugada de quinta-feira, uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocou pelo menos meia centena de mortos, 10 dos quais civis, em território ucraniano, segundo Kiev.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a operação na Ucrânia visa "desmilitarizar e desnazificar" o vizinho e que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo dos seus "resultados" e "relevância".

O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU.