Oito mitos sobre o acordo ortográfico
04-05-2017 - 18:03
 • Marta Grosso

Sabe quais são as palavras que mudam de grafia com o novo acordo? Conhece todas as regras? A Renascença pediu a Sara de Almeida Leite, autora do livro “Como escrever tudo em português correcto” (ed. Manuscrito), que desfizesse alguns mitos.

Em vigor desde 2009 (com seis anos adicionais de transição), o novo acordo ortográfico ainda levanta dúvidas. Eis algumas questões que surgem com frequência e que, por vezes, são substituídas por falsas certezas ou "mitos".

1. Vamos ter de passar a escrever "fato" em vez de facto?

Não. Quando dizemos a palavra “facto” pronunciamos sempre o ‘c’, pelo que essa consoante não é suprimida na escrita. Apenas desaparecem o ‘c’ e o ‘p’ "mudos", isto é, que não são pronunciados.

2. A palavra “cágado” passa a escrever-se sem acento?

Não. Apenas perdem acento as palavras com dois ‘és’ seguidos, como “veem” e “leem”, palavras que só tinham acento para se distinguirem de outras (como é o caso de “pára” e “pêra”), palavras graves com o ditongo tónico ‘ói’, como “heróico” e “jóias”, e palavras com ‘u’ tónico depois de ‘q’ ou ‘g’, como “adeque” e “enxague".

3. É suposto escrever "contato" em vez de contacto?

Não. Na variedade europeia do português, “contacto”, tal como “facto”, pronuncia-se articulando o ‘c’ que está antes do ‘t’. Portanto, devemos continuar a escrever a palavra com essa consoante.

4. Deixa de se usar o hífen em todas as palavras derivadas e compostas?

Não. O hífen apenas desaparece nas formas monossilábicas do verbo “haver” seguidas da preposição “de”, como “hei de” e “hás de”; em derivados por prefixação (como “antirreligioso” e “autoestrada”), mas não em todos; e nos compostos que são locuções, como “casa de banho” e “fim de semana”, embora esta supressão do hífen (compostos que são locuções) também não ocorra em todos os casos (exemplo, nomes de animais e plantas).

5. Passa a ser obrigatório escrever os nomes das ruas e das disciplinas com minúscula?

Não. O uso de minúscula, nesses casos, é opcional. Assim, quem quiser pode continuar a escrever “Avenida da Liberdade” e “Matemática”, em vez de “avenida da liberdade” e “matemática”.

6. Somos obrigados a escrever "pensámos" sem acento agudo?

Não. O acento gráfico nas formas verbais dos verbos terminados em “ar” no pretérito perfeito, 1.ª pessoa do plural, como “contámos”, “estudámos”, “lembrámos”, continua a poder usar-se, sendo agora opcional.

7. Temos de passar a escrever "espetador" em vez de espectador?

Não. Uma vez que na "pronúncia culta" em Portugal o ‘c’ de “espectador” não é necessariamente mudo, quem preferir manter o ‘c’ na ortografia poderá fazê-lo ainda.

8. Se escrevermos "correto" e "teto", isso significa que passaremos a pronunciar essas palavras como se o ‘e’ tivesse acento circunflexo?

Não. Várias palavras, como “retaguarda”, “pateta”, “Anacleto” e “meta”, nunca se escreveram com ‘c’ antes do ‘t’ e continuamos a pronunciá-las com ‘e’ aberto.