Quando se olha
desapaixonadamente, numa ótica de horizonte longo, para a situação atual e para
o futuro do país há três constatações que irresistivelmente se formam:
- em primeiro lugar, o progresso realizado em certas áreas, nomeadamente na dotação de infraestruturas, na investigação científica e na qualificação das pessoas, embora, neste último caso, não tenha sido anulado o atraso em relação à maior parte dos países da Europa
- em segundo lugar, a falta de tradução deste progresso no crescimento económico, que teve um largo período de estagnação e que, mesmo excluindo os efeitos da pandemia, continua a ser insatisfatório
- em terceiro lugar, os desafios que temos pela frente, que não são só nossos, mas que nem por isso deixam de assumir uma dimensão extraordinária, sendo os mais prementes o envelhecimento da população e a necessidade de reduzir fortemente as emissões de gases com efeito de estufa.
Fala-se muito (talvez de mais) de reformas estruturais, mas isso pouco adianta se não se definirem prioridades claras, uma vez que a capacidade reformista de qualquer governo é limitada. E aqui voltamos ao velho problema dos regimes democráticos: o horizonte político é no melhor dos casos de médio prazo, mas deveria ser de prazo muito mais longo, uma vez que para lidar com aqueles desafios é necessário avançar desde já com atuações cujos efeitos benéficos só serão sensíveis uma ou duas décadas mais tarde.
A forma de lidar com este problema é garantir um compromisso político alargado e sério para uma agenda de reformas de longo prazo. Infelizmente em Portugal entende-se muitas vezes uma política de longo prazo como sendo uma política em que as ações podem não ser tomadas desde já o que significa adiar e muitas vezes esquecer o que é essencial. É justamente o contrário o que necessitamos: é preciso atuar desde já para obtermos benefícios essenciais mas que só serão sensíveis a prazo.