O futuro político de Trump
03-03-2021 - 06:00

O objectivo do ex-presidente é candidatar-se às eleições presidenciais de 2024. Não irá fundar um novo partido; a sua aposta é manter e reforçar a sua influência no partido republicano, que já é grande. Por isso atacará ferozmente todos os republicanos que o critiquem. Resta saber se o partido republicano sobreviverá às tensões internas a que Trump o irá submeter.

Derrotado por J. Biden, mas tendo obtido mais votos em Novembro passado do que em 2016, Trump hesitou sobre o que faria daqui em diante. Continua a insistir que as eleições foram um roubo. Esta fantasia serve para manter empenhados os seus mais dedicados apoiantes, que acreditam em tudo o que Trump diga.

Uma hipótese seria formar um novo partido, à margem do partido republicano. Segundo uma sondagem da Universidade de Suffolk 46% dos que votaram em Trump em novembro disseram que abandonariam o partido republicano para integrarem o eventual partido de Trump. Mas a história recente mostra como é difícil a vida de um partido formado para competir com os dois grande partidos americanos, o democrático e o republicano. Talvez por isso, Trump anunciou no domingo passado que não irá formar um partido. Vai, isso sim, tentar tornar mais forte ainda a sua influência no partido republicano. Um partido que, disse o seu filho Donald Trump jr., já é o partido de Trump.

O alvo de Trump serão as eleições presidenciais de 2024. Mas Trump estará muito ativo nas eleições intercalares de 2022. Desde já ele irá lutar contra qualquer candidato ou aspirante a candidato republicano que não lhe seja simpático. Serão centenas de eleições primárias e finais, ao nível estadual e federal, cujas campanhas na prática começam agora, desde logo com a angariação de fundos.

Certamente que existem muitos membros do partido republicano que gostariam de escolher outro candidato presidencial. Mas não o afirmam publicamente porque receiam as represálias de Trump. E também alguns preveem que Trump não será eleito em 2024, só que não se atrevem a dizê-lo. Calcula-se que os adeptos indefectíveis de Trump controlam a máquina para as eleições primárias no partido. É curioso que, apesar de três derrotas em novembro (presidência, senado e câmara dos representantes, neste último caso uma meia derrota) ninguém da direção nacional do partido republicano se tenha demitido.

Como se sabe, foram poucos os congressistas republicanos que ousaram tomar uma posição pública contrária a Trump. Os poucos que o fizeram estão a ser alvo de violentos ataques do ex-presidente.

Veja-se o caso de Mitch McConnell, o líder da maioria republicana no Senado, maioria que passou para os democráticos pela margem mínima. Durante quatro anos McConnell fez o que o então presidente queria. Mas na sessão do Senado que aprovaria os resultados das eleições presidenciais, McConnell fez um duro discurso contra os que – seguindo Trump – defendiam ter havido fraude nessas eleições. Claro que o ex-presidente dirigiu a McConnell todos os insultos, como é seu hábito. Pois há dias McConnel afirmou que, caso Trump seja candidato presidencial em 2024, certamente o apoiará totalmente...

Ainda é muito cedo para fazer previsões. Trump tem vários factores de peso contra ele. A sua popularidade a nível nacional está nos 34%. Por outro lado, Trump ver-se-á envolvido numa longa série de processos judiciais, ligados ao seu mandato presidencial e também a problemas anteriores a esse mandato. Foi num desses processos, desencadeado pelo ministério público do Estado de Nova York, que o Supremo Tribunal rejeitou um recurso de Trump, que não queria entregar os seus documentos fiscais ao ministério público de Nova York. Trump pensaria que, como tinha designado vários juízes “amigos” para o Supremo, que passou a contar com 6 juízes “conservadores” contra 3 “progressistas”, jamais este tribunal tomaria uma decisão desfavorável a ele. É essa a ideia que Trump tem do direito...

Trump sugere que “talvez” seja candidato às próximas eleições presidenciais. É manifesto que esse é o seu objectivo, mas convém-lhe manter a incerteza, para mobilizar os seus apoiantes. Resta saber se o partido republicano sobreviverá às tensões internas a que Trump o irá submeter durante quatro anos.