A dependência nacional do Estado
10-07-2019 - 06:44

Os portugueses estão de tal modo dependentes do Estado que para tudo e mais alguma coisa reclamam um ministério.

O Bloco de Esquerda propõe no seu programa eleitoral para as legislativas de outubro a aprovação de uma “lei do clima” e a criação do Ministério da Ação Climática. A este novo ministério competiria coordenar várias ações ambientais na indústria, no território, na habitação, na energia, etc.

Não se percebe muito bem o que, então, restaria ao ministério do Ambiente para fazer, uma vez criado o ministério da Ação Climática. Talvez a resposta tenha sido dada pelo cartoonista Luís Afonso, no “Público” de segunda-feira. À pergunta “então não temos cá o ministério do Ambiente?”, responde o barman: “Suponho que esse seja da inação”.

Graças à parte, a tendência nacional para tudo fazer depender do Estado é antiga e está longe de ser exclusiva dos partidos de esquerda. Digamos que no BE até é natural, pois a ideologia do partido rejeita ou desvaloriza tudo o que seja exterior ao Estado. De resto, o marxismo mais ou menos ortodoxo considera por natureza um roubo a empresa privada, pois ali os patrões apropriam-se da célebre mais-valia aos trabalhadores.

Curioso é que, fora da esquerda, a dependência do Estado não é menor. Há anos, uma personagem de direita reclamava um “ministério das empresas”, para dinamizar a iniciativa privada. Hoje, ouve-se de novo reivindicar um “ministério do turismo” - coisa de que já se ouvia falar há décadas, muito antes do presente “boom” turístico, que nada teve a ver com iniciativas estatais. E os artistas, escritores, pintores, músicos, atores, etc. ficam deprimidos quando em certos governos não há ministério da Cultura, apenas uma secretaria de Estado.

Depois, queixam-se da debilidade da nossa sociedade civil. Talvez a solução seja criar o ministério da sociedade civil…