O povo no dia de Marcelo: “Grande homem que temos aqui, pá!”
09-03-2016 - 18:44
 • Cristina Nascimento , Joana Bourgard (fotos)

Desempregados, turistas, reformados e até uma amiga. A Renascença ouviu as pessoas que, do Parlamento ao Palácio de Belém, quiseram ver (ainda que de longe) momentos do dia em que Marcelo Rebelo de Sousa se tornou Presidente.


“Bem-vindo, senhor Presidente, bem-vindo à sua casa que bem a merece. Grande homem que nós temos aqui, pá!”. Alto e bom som, esta senhora de 77 anos, que não se quis identificar, foi das primeiras a aplaudir Marcelo quando acabava a revista à Guarda do Palácio de Belém. O novo inquilino abrandou o passo e acenou às larguíssimas dezenas que ali se encontravam. Foi o momento mais próximo do povo que o novo Presidente da República conseguiu ter, depois de uma manhã tomada pelas cerimónias oficiais.

“Gostei sempre dele. Além do senhor professor Cavaco Silva, é ele o homem certo para isto”, diz. É indisfarçável a alegria. “É um homem, um cavalheiro, um cidadão, não há dúvida”, afirma, enquanto continua a aplaudir.

O dia da tomada de posse do novo Presidente começou cedo para os lados do Parlamento, onde oficialmente tudo aconteceu. Às 7h30 chegavam os militares dos três ramos das Forças Armadas, a tempo de ainda aquecerem os instrumentos que nesta quarta-feira de manhã várias vezes tocariam o hino nacional.

“Se ele for Presidente como era comentador…”

Nuno Pereira, 42 anos, é trabalhador de limpeza urbana da Junta de Freguesia da Misericórdia. De vassoura e pá na mão explica que os trabalhos começaram ainda mais cedo. “Houve lavagens das ruas, dos passeios e lavagem de sarjetas… Agora começou a varredura. Mas isto é todos os dias, não é por causa de haver estas comemorações ou lá o que é que vai haver do Presidente”, diz.

De olhos postos no Parlamento, confessa que se pudesse estaria lá dentro. “Por acaso até gostava”, repete três vezes. “Sempre vivi aqui, sempre vi estas comemorações, mas agora é diferente, a tomada de posse do Marcelo é uma coisa mais importante.”

Questionamos se está confiante no mandato que agora começa. “Se ele for Presidente como era comentador, só se espera bem”, diz. Mas lá desabafa: “Muito pouco ou nada ele pode mudar, não estou a ver isto a dar grande volta.”

A recta final da Rua de São Bento está de trânsito cortado, mas os carros fazem fila. Uns atrás dos outros, viaturas do corpo diplomático não deixam margem para dúvidas: vai ali gente importante.

“Já o vi, já o vi… Ele é muito jeitoso”. Ele é Felipe VI, Rei de Espanha, e quem fala é uma dupla de moradoras. Maria Teresa e Elvira Santos não desarmam. “Mas o nosso também vai ser jeitoso, vamos lá a ver se ele vai fazer qualquer coisinha de melhor por nós que temos umas reformas muito baixas”, diz uma. “Eu acho que ele vai ajudar os pobres”, responde a outra, sem tirarem os olhos do vai e vem dos carros oficiais. “Este é um dia infernal, mas pronto. Há uma coisa que eu estou contra: antes do 25 de Abril nós tínhamos a opção de subir para a escadaria. E se há liberdade de expressão, a gente devia poder ir para escadaria. Agora proibiram, não se percebe porquê, o povo é sereno.”

Desempregados a “passar um dia diferente”

Mais contida, na paragem de autocarro, em frente ao Parlamento, Paula Marques, desempregada, diz que também nunca falha. “Moro aqui há 52 anos e nestes dias e no 25 de Abril, nunca falho, gosto muito de ver ao vivo”, explica.

Já em frente aos Jerónimos, é lá que se encontra outra desempregada. Rosa Fernandes trabalhava na área administrativa e está há um ano sem emprego. “Vim de propósito, para se passar um dia diferente. Estou desempregada, talvez isto seja um bom augúrio, vir aqui, ver um político, ter alguma esperança naquilo que ele possa fazer”, diz Paula Fernandes.

Rosa está longe do Mosteiro dos Jerónimos onde Marcelo Rebelo de Sousa foi colocar uma coroa de flores nos túmulos de Vasco da Gama e Luís de Camões. “Vê-se mal mas o ambiente é agradável”, explica. E os concertos da Praça do Município (Anselmo Ralph, José Cid, entre outros)? Vai “ver na TV”.

Marcelo é socialista?

Franz vem da Alemanha e está em Lisboa de férias com a mulher e, como muitos turistas, a “tour” fê-los passar pelos Jerónimos. Não sabiam que o novo Presidente tomava posse esta quarta-feira. Perguntamos o que sabe sobre o novo chefe do Estado. “É socialista?”, arrisca.

Esclarecemos a família política e ele avança com um nome “Silva”. Explicamos que esse é o Presidente que sai, este é Marcelo Rebelo de Sousa, um novo nome para decorar. “Não vale a pena, não é a minha área”, admite. Franz e a mulher Angela já tinham estado em Portugal, mas há 30 anos, um ano antes de Cavaco Silva assumir a chefia do seu primeiro Governo. “Em 1984, o país parecia-me mais rico, as casas no centro da cidade habitadas e as pessoas mais optimistas”, analisa.

José Teixeira, 41 anos, também está de passeio. Trabalha à noite e por isso conseguiu ir a Belém, acompanhado dos filhos, dois gémeos de dois anos. “Eu venho para ver a tomada de posse, eles vêm ver os cavalos e pelo passeio de comboio”, explica. A irrequietude dos miúdos não permite grandes conversas, mas sempre vai dizendo que Marcelo foi o candidato em que votou. “Melhor há-de ser”, desabafa.

Não muito longe de José Teixeira, está Ana. Emocionada, esta mulher veio do Estoril até Lisboa para “ver um amigo”. Ana “Preta”, dona de um restaurante, nasceu em Moçambique e está há 40 anos em Portugal. Garante que Marcelo vai todos os sábados ao seu estabelecimento.

“Desejo-lhe tudo bom e que nos consiga unir de Moçambique a Lisboa. As coisas não estão fáceis, tenho lá uma filha. O pai [de Marcelo] foi governador de Moçambique. Espero que seja tão bom Presidente como o pai foi bom governador”, diz Ana “Preta”.

“É um homem fantástico, é o homem que Portugal precisava neste momento.”