Ter sucesso dá muito trabalho e Fernanda Ribeiro é a prova disso. Só nas terceiras olimpíadas o sucesso chegou e logo no lugar mais alto do pódio. Até lá, muito suor e vitórias, mas também recuos e até o pensamento de deixar estas lides das corridas.
Foi uma júnior muito promissora e o “prémio” foi a presença, aos 19 anos, nos Jogos Olímpicos de 1988, em Seul, onde Rosa Mota viria a brilhar.
Foi correr os 3000 metros, mas não foi além do 13.º lugar na meia-final, sem hipótese de chegar à decisão.
Quatro anos passados, em Barcelona, voltou a ser eliminada nas meias-finais.
Após as críticas, Fernanda Ribeiro chegou a pensar no abandono e só a entrada em cena de um novo treinador a resgatou para a competição.
Já com João Campos ao leme, começaram a chegar os resultados: campeã da Europa nos 10.000 metros, campeã do mundo nos 10.000 metros e vice-campeã mundial nos 5.000 metros.
E foi com esta boa “vibe” que chegaram os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Por esta altura, Fernanda Ribeiro já era uma das candidatas à medalha.
Em declarações ao Porto Canal, anos depois, a atleta, que esteve vários anos ao serviço do FC Porto, divulgou o seu segredo.
“Eu treinei com o António Pinto, Domingos Castro, Paulo Guerra e nos treinos com eles tentavam sempre que eu não aguentasse, mas eu aguentei sempre. Sabia que estava muito bem”, relatou.
A 2 de agosto de 1996 tudo se confirmou e a atleta de Novelas, Penafiel, chegou ao Olimpo. Na final dos 10.000 metros liderava a recordista mundial Wang Junxia, mas Fernanda Ribeiro fez uma última volta memorável, recuperou o atraso e ultrapassou a atleta chinesa.
Conclusão: ouro e com recorde olímpico alcançados (31.01,63 minutos).
No final da prova, Fernanda Ribeiro explicou aquele desfecho: "Eu sabia que estava muito rápida. Claro que para mim um segundo lugar era excelente, era uma medalha. Só que durante a prova pensei: 'Não tenho nada a perder e vou tentar chegar o mais à frente possível'. Pelo ecrã eu percebi que a atleta chinesa estava a sofrer. Vi um 'buraquinho' e passei. Ela estava muito desgastada e não contava que passasse".
A vitória é ainda mais impressionante quando se sabe hoje que Wang Junxia estava dopada. A própria atleta chinesa confirmou-o, anos depois, numa carta enviada a um jornalista. Antes da missiva, o treinador Ma Junren sempre defendeu-se que os seus 10 atletas recorriam a sangue de tartaruga e fungos, para além do treino em altitude.
Também em 1996, Portugal conquistou uma medalha de bronze através da dupla Hugo Rocha e Nuno Barreto, na prova da Classe 470, em Vela.