"Percebi pelo ecrã que a atleta chinesa estava a sofrer": foi assim que Fernanda Ribeiro conquistou o ouro em 1996
07-08-2024 - 14:15
 • Carlos Calaveiras

No terceiro texto da série "Os dourados portugueses", na qual Bola Branca recorda os atletas portugueses que venceram provas olímpicas, viajamos até Atlanta 1996.

Ter sucesso dá muito trabalho e Fernanda Ribeiro é a prova disso. Só nas terceiras olimpíadas o sucesso chegou e logo no lugar mais alto do pódio. Até lá, muito suor e vitórias, mas também recuos e até o pensamento de deixar estas lides das corridas.

Foi uma júnior muito promissora e o “prémio” foi a presença, aos 19 anos, nos Jogos Olímpicos de 1988, em Seul, onde Rosa Mota viria a brilhar.

Foi correr os 3000 metros, mas não foi além do 13.º lugar na meia-final, sem hipótese de chegar à decisão.

Quatro anos passados, em Barcelona, voltou a ser eliminada nas meias-finais.

Após as críticas, Fernanda Ribeiro chegou a pensar no abandono e só a entrada em cena de um novo treinador a resgatou para a competição.

Já com João Campos ao leme, começaram a chegar os resultados: campeã da Europa nos 10.000 metros, campeã do mundo nos 10.000 metros e vice-campeã mundial nos 5.000 metros.

E foi com esta boa “vibe” que chegaram os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Por esta altura, Fernanda Ribeiro já era uma das candidatas à medalha.

Em declarações ao Porto Canal, anos depois, a atleta, que esteve vários anos ao serviço do FC Porto, divulgou o seu segredo.

“Eu treinei com o António Pinto, Domingos Castro, Paulo Guerra e nos treinos com eles tentavam sempre que eu não aguentasse, mas eu aguentei sempre. Sabia que estava muito bem”, relatou.

A 2 de agosto de 1996 tudo se confirmou e a atleta de Novelas, Penafiel, chegou ao Olimpo. Na final dos 10.000 metros liderava a recordista mundial Wang Junxia, mas Fernanda Ribeiro fez uma última volta memorável, recuperou o atraso e ultrapassou a atleta chinesa.

Conclusão: ouro e com recorde olímpico alcançados (31.01,63 minutos).

No final da prova, Fernanda Ribeiro explicou aquele desfecho: "Eu sabia que estava muito rápida. Claro que para mim um segundo lugar era excelente, era uma medalha. Só que durante a prova pensei: 'Não tenho nada a perder e vou tentar chegar o mais à frente possível'. Pelo ecrã eu percebi que a atleta chinesa estava a sofrer. Vi um 'buraquinho' e passei. Ela estava muito desgastada e não contava que passasse".

A vitória é ainda mais impressionante quando se sabe hoje que Wang Junxia estava dopada. A própria atleta chinesa confirmou-o, anos depois, numa carta enviada a um jornalista. Antes da missiva, o treinador Ma Junren sempre defendeu-se que os seus 10 atletas recorriam a sangue de tartaruga e fungos, para além do treino em altitude.

Também em 1996, Portugal conquistou uma medalha de bronze através da dupla Hugo Rocha e Nuno Barreto, na prova da Classe 470, em Vela.