Ao longo do corrente ano de 2018 o preço do petróleo bruto tem variado com grande frequência. O “crude” é cotado em dólares, divisa que se tem valorizado nas últimas semanas em relação ao euro – é bom para os nossos exportadores, mas faz subir o preço dos combustíveis que utilizamos sobretudo nos automóveis e no restante transporte rodoviário. A vida não está fácil para pessoas e empresas que dependem muito dos produtos petrolíferos e, com as atuais incertezas, dificilmente conseguem planear até a curto prazo.
Há dois anos, em novembro de 2016, os países da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), acompanhados pela Rússia, decidiram cortar a sua produção a partir de janeiro seguinte. Há um ano esse corte foi mantido. E em 2018 a tendência altista manteve-se, chegando o barril de “crude” Brent a ultrapassar os 86 dólares no princípio de outubro, um máximo de quatro anos. Mas desde então – ou seja, num mês – o “crude” Brent perdeu praticamente um quinto do seu preço em dólares.
Muita coisa mudou no mercado mundial do petróleo. A OPEP, mesmo com o apoio da Rússia (que não faz parte do cartel), perdeu quota de mercado, enquanto o petróleo e o gás natural extraídos de rochas xistosas (o chamado e ecologicamente perigoso “fracking”) levaram os EUA a tornarem-se livres de dependências petrolíferas externas.
Agora, é Trump quem faz pressão sobre a Arábia Saudita para que a OPEP não corte a sua produção. As sanções que Trump impôs ao Irão, reduzindo as exportações petrolíferas deste país, poderiam atirar o preço do “crude” para a casa dos 100 ou mesmo 150 dólares o barril - o que travaria o crescimento económico americano. E a Venezuela, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo, quase deixou de exportar, dada a degradação do seu aparelho produtivo – no mercado interno venezuelano há falta de gasolina e gasóleo…
Mas a Arábia Saudita, cujas relações com Washington passam por um mau momento (depois do assassinato do jornalista saudita no consulado deste país em Istambul), não fez a vontade a Trump. Ainda antes de uma decisão coletiva da OPEP, que deverá acontecer em 6 de dezembro, Riad decidiu unilateralmente cortar a sua produção já a partir de início de dezembro – anúncio que logo fez travar a descida do preço do “crude”, que ontem até subiu. Certamente que os restantes membros da OPEP irão acompanhar, em maior ou menor grau, a posição do maior exportador mundial de “crude”, a Arábia Saudita.
Provavelmente o Irão será dispensado pela OPEP de fazer cortes. Não menos importante para o mercado, as sanções americanas permitiram a vários e importantes países consumidores continuarem a comprar petróleo iraniano – países como a China, o Japão, a Índia e a Turquia.
Curiosa é a posição da Rússia. Moscovo receia que um preço demasiado alto do “crude” acelere a produção de petróleo de xisto nos EUA, a qual tem vindo a aumentar, até porque Trump não dá importância a preocupações ecológicas. A Putin não agradará ver Washington dominar o mercado petrolífero mundial. Por isso será com alguma relutância que a Rússia aceitará reduzir a sua produção.