​Regresso do eugenismo
21-02-2020 - 06:17

Foi afastado do gabinete de Boris Johnson um consultor que tem defendido posições racistas e eugenistas. Mas o mentor deste personagem continua a ser o principal conselheiro do primeiro-ministro britânico. A liberalização da eutanásia facilitará o desprezo pela vida considerada inútil.

A propósito dos prováveis efeitos da liberalização da eutanásia, no passado dia 8 lembrei aqui que, nas primeiras décadas do séc. XX, esteve em voga o movimento eugenista, pretendendo “melhorar a raça” (branca, claro). Com a tragédia do holocausto, que levou a níveis arrepiantes o eugenismo, essas ideias desapareceram do espaço público. Mas, desgraçadamente, parece que estão a voltar, tal como temos hoje na Europa e nos EUA pessoas e grupos declaradamente neonazis.

Foi esta semana afastado do gabinete do primeiro-ministro britânico o consultor Andrew Sabisky, pessoa próxima do “guru” de Boris Johnson, um homem de extrema-direita e ardente promotor do Brexit, de seu nome Dominic Cummings.

Sabisky foi forçado a deixar de ser consultor de Boris Johnson porque jornais como o “Guardian” divulgaram posições racistas e eugenistas que ele tomou publicamente nos últimos anos. Mas Dominic Cummings continua a ser o principal conselheiro do primeiro-ministro do Reino Unido…

Andrew Sabisky defende existirem diferenças raciais em matéria de inteligência. Em média, segundo ele, os negros americanos são menos inteligentes do que os brancos nos EUA.

Em matéria de eugenismo, Sabisky sugere aplicar contraceção obrigatória aos que mais dependem de apoios sociais, pois – diz ele – têm demasiados filhos. Pelo contrário, Sabisky reclama medidas para aumentar a baixa fertilidade dos outros, menos pobres, considerados mais pró-sociais, mais “civilizados”. Por outro lado, o ex-consultor de Boris Johnson prevê que, cerca de 2050, a Grã-Bretanha terá uma maioria populacional islâmica. Algo que ele gostaria de travar enquanto é tempo – mas é uma fantasia.

É preocupante que sinistras ideias destas, que se julgavam mortas e enterradas, tenham regressado – e não sabemos onde irá parar a sua difusão e aceitação, mesmo em países ditos desenvolvidos. Aliás, o horror do holocausto e do nazismo aconteceu num país altamente culto, a Alemanha. E a liberalização da eutanásia, em Portugal, Espanha e noutros países, facilitará o desprezo pela vida considerada inútil.