Os alvos de Trump
27-08-2018 - 06:15

Os sarilhos em que o presidente americano está metido são cada vez mais evidentes. Como resposta, Trump multiplica ataques.

O presidente Trump enviou uma mensagem de condolências à família de John McCain, falecido no sábado. É normal, dir-se-á, mas com Trump e a sua grosseria nunca se sabe... Recorde-se que Trump se recusou a considerar McCain um “herói de guerra”, porque se tinha deixado capturar no Vietname, onde durante mais de cinco anos foi torturado. O que ele, Trump, aprecia são os que não se deixam capturar, explicou.

Ora não ser ele próprio capturado é a primeira tarefa de Trump neste momento, quando se multiplica o número de antigos colaboradores seus que aceitam falar à justiça em troca de serem alvo de penas mais leves pelos delitos cometidos. Há mais de um ano que Trump ataca publicamente o Procurador-geral (que nos EUA é ministro da Justiça), Jeff Sessions, um dos seus primeiros apoiantes na corrida à Casa Branca.

Trump insultou Sessions, dizendo que ele não controla o ministério da Justiça. Leia-se: Sessions não pôs termo à investigação do procurador especial, Robert Mueller, sobre o eventual (hoje inegável) envolvimento de russos na campanha eleitoral, denegrindo Hillary Clinton. Sessions respondeu publicamente que não cedia a pressões políticas.

Sessions foi nomeado por Trump, que legalmente o pode demitir. Mas tal demissão seria politicamente desastrosa para o presidente, agora que as nuvens se adensam sobre ele na justiça.

Outra personalidade alvo do público desagrado de Trump é o atual presidente da Reserva Federal, Jay Powell. É que Powell, embora optimista quanto à evolução da economia americana, já subiu e tenciona subir mais (a partir de um nível historicamente muito baixo) a taxa de juro de referência do banco central americano. Como é próprio de um populista, Trump é contra a subida dos juros, ainda que essa posição colida com a tradicional ortodoxia financeira do partido republicano, hoje praticamente submetido ao presidente (J. McCain era uma das raras exceções entre os notáveis do partido).

Mas nem só de ataques vive Trump. A queda da Ponte em Génova, Itália, e o comportamento irresponsável do governo eurocético italiano levou numerosos investidores a venderem títulos da dívida pública italiana. Pois logo o presidente dos EUA se ofereceu para, em 2019, comprar boa parte dessa dívida. A concretizar-se, será mais um passo para o avanço da coligação internacional de políticos de extrema-direita, que o antigo conselheiro e mentor de Trump, Steve Bannon, está a tentar formar a partir de Londres.