"Não devemos ter vergonha de servir os nossos vinhos Douro e Porto"
30-11-2019 - 01:55
 • Henrique Cunha

Gilberto Igrejas, do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), diz que "não devemos ter vergonha de servir os nossos vinhos quando temos visitas estrangeiras, e que não devemos ter vergonha de ofertar os nossos vinhos quando vamos ao estrangeiro".

O presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) desafiou, na edição de novembro das "Conversas na Bolsa" da Associação Comercial do Porto, os produtores e a região a "propor aos agentes económicos um vinho do Douro".

Gilberto Igrejas pede insistência na divulgação e classifica de "importantíssimo o sector da promoção internacional e de divulgação daquilo que são os vinhos do Douro e Porto".

O antigo professor na Universidade de Trás-os-Montes deixou um apelo de contenção às pessoas que trabalham no setor, para que “pensem bem quando emitem opiniões de carácter público acerca daquilo que é a região demarcada do Douro”.

Gilberto Igrejas lembra que “todos queremos trazer mais valor para o país” e, portanto, “as nossas afirmações devem ser contidas em determinados momentos porque por vezes têm um efeito nefasto para a própria região”, quando o objetivo é precisamente “trazer mais riqueza para o território”.

O responsável considera pouco revelante saber quem vai alicerçar o modelo de desenvolvimento das duas denominações de origem, "se é o Douro que vai puxar o Porto ou se é o Porto que vai puxar o Douro".

Para o presidente do IVDP, são "duas denominações de origem protegidas e que ambas são importantes para a região".

Gilberto Igrejas defende que "importante é que a promoção internacional traga mais valor, possibilite aumentar as vendas e, sobretudo, aumentar o valor unitário por garrafa", até porque "trazendo mais riqueza para o território obviamente a questão da fixação de pessoas ligadas à viticultura e à região será mais fácil de ser conduzida".

O presidente do IVDP lembra que "a critica de falta de mão de obra já era contemporânea do Marquês de Pombal", não é uma coisa muita nova, pois "já há muitos anos se falava que era necessário mão de obra na região demarcada do Douro", portanto "vivemos um ciclo e a história acaba sempre por se repetir".

Gilberto Igrejas recorda que o Douro é uma região vastíssima com 250 mil hectares", em que 32 mil são destinados à produção de vinho do Porto".

Em finais de 2018 existiam na região 20.360 produtores, mas o número terá baixado já este ano para cerca de 20 mil.

O presidente do IVDP considera positivo o facto de apesar de "haver uma ligeira quebra de vendas, o valor do preço unitário continuar a subir". Diz que "isto faz pensar com otimismo e sobretudo que é com os mercados internacionais que devemos continuar a trabalhar", sem esquecer de continuar a dizer " aos nacionais que temos vinho de ótima qualidade e que temos cada vez mais de ser nós próprios os guardiões de essa qualidade".

É fundamental "trabalho, dedicação e estratégia" para se continuar a apostar "em mercados conhecedores das categorias especiais", e Gilberto Igrejas dá o exemplo da Dinamarca, "um país nórdico que soube evoluir no consumo de vinho do Porto e é um mercado muito conhecedor das nossas categorias especiais", e que consome "vinhos com o preço médio por garrafa mais caro".

Em jeito de conclusão, afirma que "nós temos vinhos de excelente qualidade" que só não são vendidos ao preço daquele que são vendidos os vinhos internacionais e que, portanto, "nós temos de ser capazes de com as dinâmicas de território e as dinâmicas de vendas das diversas casas e diversos exportadores conseguir passar esta imagem de qualidade também para o valor".

Gilberto Igrejas, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, foi o 21.º convidado das "Conversas na Bolsa" da Associação Comercial do Porto. "Retratos de caminhos no espaço pelo tempo" foi o tema escolhido pelo anfitrião.