​RTP: uma viagem a prosseguir
05-03-2018 - 08:09

O caminho que tem vindo a ser ensaiado precisa de ser prosseguido com competência e recursos e com sentido do serviço público.

No referendo deste fim de semana, os cidadãos suíços foram confrontados com uma pergunta radical: querem ou não continuar a pagar a taxa para o serviço público de rádio e televisão? Ou seja: querem ou não continuar a dispor de um serviço público no audiovisual? A resposta, que parecia imprevisível, foi, no entanto, concludente em todos os cantões: mais de 70% responderam afirmativamente.

Tão importante como este resultado foi o intenso debate que, a propósito do referendo, se desencadeou na Suíça, nas últimas semanas, acerca da missão que deve caber ao audiovisual e ao multimédia públicos e às condições da sua prestação. O resultado revela a convicção de que a sociedade não quer ater-se apenas à oferta dos media comerciais num mercado reduzido e multilinguístico, e que os media públicos desempenham um relevante papel na coesão e identidade dos helvéticos.

Entre nós, faz falta incentivar e alargar também este debate. Nos últimos anos, a RTP aposta de forma clara em ser alternativa de qualidade aos operadores privados. Essa estratégia continua a deparar com um setor que discorda da existência do serviço público e outro, em parte coincidente com o primeiro, que o vê com bons olhos desde que o possa controlar. Internamente, faz falta aprofundar e generalizar a cultura do serviço aos diferentes públicos, a criatividade e inovação, a proximidade e abertura à sociedade, a avaliação e a formação.

O caminho que tem vindo a ser ensaiado precisa de ser prosseguido com competência e recursos e com sentido do serviço público. Há muito a fazer na ficção de qualidade, na informação e no documentário, na programação para a infância, no jornalismo de proximidade, na educação para os media, na criação de novos públicos e nos modos de a RTP se tornar presente e relevante na sociedade sem que isso se meça apenas através do audímetro. Estamos a meio do primeiro mandato do Conselho Geral Independente que assegura a despartidarização e desgovernamentalização e se tem assumido como defensor dos abrangidos pela CAV (contribuição para o Audiovisual).

A avaliar, porém, por movimentações recentes no âmbito político-partidário, a tentação é grande de voltar atrás e de abrir de novo portas à interferência do poder político. Seria um péssimo sinal que se começasse, mesmo que com as melhores intenções, a sabotar o que ainda está a começar a ser construído. A RTP carece de tranquilidade para continuar a viagem que iniciou e de que deve, sempre, prestar contas.