Cavaco Silva sobre nomeação de familiares: "Não sou comentador de televisão"
15-04-2019 - 07:00
 • Graça Franco

A entrevista de Cavaco Silva à Renascença, a primeira de um conjunto de entrevistas sobre a Europa, a propósito das europeias de 26 de maio, foi marcada para falar das eleições. Sobre o caso "familygate", Cavaco não cede: não fala da "espuma dos dias" da política. "Há muitos políticos, neste momento, a serem comentadores na televisão, mas eu nunca fui comentador televisivo e acho que é um dos grande males neste momento em Portugal".

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A entrevista foi exclusivamente sobre a Europa e Cavaco Silva não se desvia do tema, mesmo quando lhe é recordada uma citação de há dois anos, quando via na União Europeia uma âncora da Democracia e identificava como uma das fragilidades do Regime a nomeação de familiares e amigos pelos detentores do poder.

Sobre isso, nem uma palavra mais. Quem não aceitou as explicações já dadas, não o perturba. E argumenta que não é “comentador de televisão”.

Ainda em Fevereiro de 2017, considerava a Europa como uma âncora da Democracia e analisava a falta de qualidade dessa Democracia, identificando alguns “abcessos”, entre eles, a corrupção ou a ”ocupação” do aparelho de Estado por familiares ou amigos daqueles que estão no poder. Curiosamente, isto foi há dois anos, o que significa que teve, muito antes dos jornais que, agora, estão envolvidos nesta polémica, a noção de que esta “parentela” governamental poderia ser um sinal dessa falta de qualidade da democracia. Como é que viu, de facto, esta evolução mais recente?

Como este assunto tem estado ultimamente na moda em Portugal, prefiro não me pronunciar sobre ele e manter-me acima de tudo, atento a esta proximidade das eleições para o Parlamento Europeu, em que interessa, acima de tudo, mobilizar os cidadãos para não se deixarem influenciar pelas "fake news".

Na Europa, subestimou-se o efeito das notícias falsas durante algum tempo. Os adversários da Europa encontraram essa fragilidade, tiraram partido do efeito das redes sociais e das notícias falsas para influenciarem os cidadãos na escolha política que possam fazer. É preciso ter, portanto cuidado, muito cuidado com essa área e eu não entrarei nesse problema lateral.

Embora, neste caso, não se trate de notícias falsas e está já a traduzir-se numa queda nas sondagens dos partidos convencionais, ou seja, no partido afectado que é o partido do Governo...

Essa é matéria para os analistas e eu não sou um analista. Há muitos políticos, neste momento, a serem comentadores na televisão, mas eu nunca fui comentador televisivo e acho que é um dos grande males neste momento, em Portugal. Foi publicado há pouco tempo um estudo que revela que há quase cem comentadores políticos na nossa Comunicação Social. Eu não sou um dos membros dessa centena.

Eu sei que não é, mas não acredito que, mesmo não gostando dos jornais, a capa do Independente lhe tenha passado ao lado. Por isso, sei que quando falou, o fez, com certeza conhecendo a capa do Independente e reconhecendo a diferença entre os dois casos. Não quer acrescentar nada?

Não. Eu já dei a explicação que devia dar e estou naquela posição em que, quem quer ou tem capacidade para aceitar essas minhas explicações o faça. A mim, já não me perturba nada: estou fora da vida política activa.

Considera que a ética pode legislar-se?

É uma matéria em que não estou em condições de me pronunciar. Eu gosto de me pronunciar sobre aquilo que sei e sobre aquilo que estudo.