Na Ucrânia repetem-se os quadros de horror precipitando na memória coletiva imagens de outros tempos imaginados como irrepetíveis na Europa.
Quando o mundo ainda recuperava do choque de Bucha, Borodyanka, Mariupol e outras cidades ucranianas mais de meia centena de pessoas eram assassinadas na fuga aos combates, na sexta-feira por um míssil disparado contra a estação de comboios de Kramatorsk.
A guerra entra assim numa segunda fase em que, para além do reposicionamento das tropas russas no Donbass se multiplica o coro de denúncias sobre a prática de crimes de guerra e a necessidade de intervenção do direito internacional.
Mas as denúncias confrontam-se com a ineficácia de instituições internacionais como a ONU ou o TPI em conflitos a envolver um país com direito de veto no Conselho de Segurança na ONU. Até no plano diplomático as possíveis negociações de paz entre Moscovo e Kiev estão passar por países terceiros com relações próximas com os beligerantes, como a Turquia ou Israel.
A guerra pode gerar crises existenciais em organizações multilaterais, neste caso o do Conselho de Segurança da ONU de cumprir o seu mandato de manutenção de paz e ser um fator de divisão, mas para instituições de comum peso estratégico, como a NATO ou UE pode ser elemento de união?
E como pode o Ocidente manter o difícil equilíbrio entre o desejo de ações mais impositivas e vigorosas contra uma potência nuclear - liderada por um autocrata - sem correr o risco de cair numa espécie de relativismo moral depois de Bucha, Borodyanka ou Kramatorsk?
A análise a este dilema e ao programa do governo de maioria absoluta PS – é de Nuno Garoupa, professor da GMU Scalia Law, Nuno Botelho, presidente da ACP – Câmara de Comércio e Indústria e do jornalista José Alberto Lemos.