“Somos chamados a agir de forma responsável para evitar qualquer tipo de abuso e garantir que as nossas crianças cresçam tranquilamente”, disse o Papa no seu primeiro discurso em Timor-Leste.
Francisco apontou “as chagas sociais, como o excessivo consumo de álcool entre os jovens e a formação de bandos que, munidos dos seus conhecimentos de artes marciais, em vez de os utilizarem ao serviço dos indefesos, utilizam-nos como ocasião para mostrar o poder efémero e nocivo da violência”.
“Não esqueçamos também muitas crianças e adolescentes feridos na sua dignidade”, disse o Papa.
O Santo Padre, no meio de tantas questões atuais, abordou também o fenómeno da emigração, que é sempre “indicador de uma valorização insuficiente ou inadequada dos recursos; bem como da dificuldade de oferecer a todos um emprego que produza lucro equitativo e garanta às famílias um rendimento que corresponda às suas necessidades básicas”.
“Penso na pobreza, presente em tantas zonas rurais, e na consequente necessidade de uma concorde ação de longo alcance, envolvendo distintas responsabilidades e múltiplas forças civis, religiosas e sociais, para remediar e oferecer alternativas viáveis à emigração”, afirmou.
No encontro com as autoridades, com a sociedade civil e com o corpo diplomático, no Palácio Presidencial, em Dili, Francisco disse que “a solução destes problemas, bem como para uma melhorada gestão dos recursos naturais do País - em primeiro lugar, das reservas de petróleo e de gás, que poderiam oferecer possibilidades de desenvolvimento sem precedentes - é indispensável preparar adequadamente, com uma formação apropriada, aqueles que serão chamados a ser a classe dirigente do País”.
“Sois um povo jovem, não pela vossa cultura e implantação nesta terra, que são muito antigas, mas porque cerca de 65% da população de Timor-Leste tem menos de 30 anos. Este número diz-nos que o primeiro campo no qual investir é a educação, na família e na escola: uma educação que coloque as crianças e os jovens no centro e promova a sua dignidade”, apontou.
Improvisando, o Papa disse que “este é um país lindo”, realçando que “o melhor que este país tem é o povo”.
“Cuidem do vosso povo, amem o vosso povo, é um povo maravilhoso (...) um povo que se expressa com dignidade e alegria”, pediu Francisco, partilhando que ficou “feliz ao ver as crianças sorrir com os seus dentes brancos”.
O Papa expressou ainda o seu contentamento pelo que está a ser feito em Timor-Leste no setor da educação.
“Sigam em frente. Creio que há várias universidades, vários colégios secundários... coisas que não havia há 20 anos. É um ritmo de crescimento muito grande”, assinalou.
Para Francisco “o entusiasmo, a frescura, a projeção para o futuro, a coragem, a iniciativa, típicos dos jovens, unidos à experiência e sabedoria dos idosos, formam uma combinação providencial de conhecimentos e de impulsos generosos para o amanhã”, realçando que “este entusiasmo e esta sabedoria, juntos, são um grande recurso e não permitem nem a passividade nem, muito menos, o pessimismo”.
Um novo horizonte, após período dramático da história
No seu primeiro discurso em Timor-Leste, Francisco evocou os tempos difíceis vividos por este jovem país e lembrou que “de Portugal chegaram os primeiros missionários dominicanos no século XVI, trazendo o Catolicismo e a língua portuguesa; esta última, juntamente com o tétum, são hoje os dois idiomas oficiais do Estado”.
“Esta terra, adornada de montanhas, florestas e planícies, rodeada por um mar brilhante, rica em frutos e madeiras preciosas e perfumadas - uma terra que desperta sentimentos de paz e alegria no coração - passou por uma fase dolorosa no seu passado recente. Viveu as convulsões e violências, que frequentemente sucedem quando um povo, ao vislumbrar a independência plena, vê a sua procura de autonomia ser negada ou contrariada”, lembrou.
“De 28 de novembro de 1975 a 20 de maio de 2002, ou seja, da independência declarada à definitivamente restaurada, Timor-Leste viveu anos de calvário e da maior provação. No entanto, o país soube reerguer-se, encontrando uma senda de paz e o início de uma nova fase, que pretende ser de desenvolvimento, de melhoria das condições de vida e de valorização, a todos os níveis, do esplendor impoluto deste território e dos seus recursos naturais e humanos”, acrescentou.
“Demos graças ao Senhor porque, atravessando um período tão dramático da vossa história, não perdestes a esperança e, depois de dias sombrios e difíceis, despontou finalmente uma aurora de paz e liberdade”, continuou.
Francisco recordou e louvou o “esforço assíduo” dos timorenses para alcançar “uma plena reconciliação” com os irmãos da Indonésia, “atitude que encontrou a sua primeira e mais pura fonte nos ensinamentos do Evangelho”.
“Mantivestes firme a esperança mesmo na aflição e, graças ao carácter do vosso povo e à vossa fé, transformastes a dor em alegria! Oxalá que noutras situações de conflito, em diversas partes do mundo, prevaleça sempre o desejo de paz, porque a paz e a unidade é superior ao conflito, sempre", disse.
Para Francisco “agora, efetivamente, abriu-se diante de vós um novo horizonte, com o céu limpo, mas com novos desafios a enfrentar e novos problemas a resolver”.
“Olhando para o vosso passado recente e para o que foi realizado até agora, há razões para estar confiante de que a vossa Nação também será capaz de enfrentar as dificuldades e os problemas atuais com inteligência e criatividade”, disse o Papa, confiando “Timor-Leste e todo o seu povo à proteção da Imaculada Conceição, vossa celeste Padroeira, aqui invocada com o título de Virgem de Aitara”.
“Que Ela vos acompanhe e ajude sempre na missão de construir um País livre, democrático e solidário, onde ninguém se sinta excluído e todos possam viver em paz e com dignidade. Deus abençoe Timor-Leste! Maromak haraik bênção ba Timor-Lorosa’e! ”, concluiu.
O ponto alto da visita de Francisco a Timor-Leste, onde 98% da população é católica, vai ser uma missa, a realizar na terça-feira em Tasi Tolu, a cerca de 10 quilómetros a oeste da capital, com a presença de milhares de timorenses.