Falta pouco mais de uma semana para termos os média nacionais ocupados com a passagem de cem dias sobre o início do mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa.
Far-se-ão, de certeza, inúmeros balanços sobre a sua prestação política, mas talvez importe ponderar, também, a estratégia de comunicação do novo presidente - a sua aplicação no terreno, a sua eficácia relativa e, sobretudo, a sua resistência ao tempo.
Tornou-se praticamente impossível a qualquer cidadão que viva neste país e que tente manter-se informado escapar a uma presença regular de Marcelo nos alinhamentos informativos. Foi assim nos primeiros dias de mandato (e isso seria mais comum), mas continuou a ser assim nos dias seguintes. E nos seguintes. E depois, também. Ocasiões houve - no dia da final da Taça de Portugal, por exemplo - em que nos foi possível ver o presidente em eventos diferentes, em lugares diferentes, com notícias encadeadas uma atrás da outra num mesmo noticiário.
Há, nesta estratégia deliberada, ganhos efetivos imediatos. A dose generosa de afetuosidade que parece saber distribuir com um talento ímpar faz-nos esquecer num ápice o seu antecessor e, mais do que isso, recupera para a presidência um lugar de real influência não apenas no xadrez da política parlamentar mas ainda no simbolicamente mais relevante xadrez das mais ou menos organizadas forças sociais. No processo, tenta reconstruir a sua própria imagem pessoal, agora distante da polémica e, sobretudo, da intriga.
Há, em todo o caso, também já algumas indicações dos riscos que corre uma figura com necessidade de intervenção permanente num cenário de (talvez) algum excesso de exposição mediática. Dois exemplos claros emergiram nos últimos dias: um texto preparado por pais que contestam as decisões recentes do ministério da Educação sobre alguns contratos de associação, onde se dizia que o sr. presidente lhes teria dito isto e aquilo, precisou de ser desmentido de imediato e informações de fontes anónimas, sobre um alegado distanciamento de Belém relativamente à estratégia orçamental do governo, conseguiram abrir caminho para a primeira página do "Expresso" (em mais um exercício deplorável a que aquele semanário, infelizmente, já nos habituou).
Ambas as situações não seriam surpreendentes no enquadramento do "Marcelo levezinho e bem disposto" que sempre gostou de "fazer mexer" a vida política nacional mas são, agora, no novo perfil que a golpes certeiros se quer talhar, indicadores de alguma porosidade.
E, por isso, à porta dos tais cem dias de presidência, valerá a pena perguntar se Marcelo vai arriscar manter-se tão presente, tantas vezes, em tantos lugares, durante muito mais tempo ou se vai recolher a territórios mais serenos e mais prudentes. O ‘velho’ Marcelo escolheria sempre a excitação da corda bamba. O "novo"’, o que fará?