“Músicos Especiais”. Da CerciOeiras para a vida
13-12-2021 - 13:42
 • Maria João Costa , André Peralta (sonorização)

Têm sonhos e já foram a Berlim. Os “músicos especiais” da CerciOeiras não deixam ninguém indiferente. “Muitas vezes pensa-se no que a pessoa não é capaz de fazer; este projeto mostra do que as pessoas são capazes”, diz a terapeuta Ana Isabel Dias.

É um projeto que “superou as expectativas no primeiro dia”, diz a terapeuta Ana Isabel Dias. “Notas de Contacto” nasceu há mais de uma década pela mão da coreógrafa Teresa Simas e, de lá para cá, tornou-se num exemplo de integração pela música.

Todas as semanas, músicos da Orquestra de Câmara Portuguesa, liderada pelo maestro Pedro Carneiro, vão à CerciOeiras onde dão aulas de música a dezenas de utentes.

“Sinto-me bem. Sinto-me livre”, diz Carlos, um dos habitantes da CerciOeiras que participa no projeto, juntamente com a Vanessa. “Somos como almas gémeas”, explica Carlos referindo-se à amiga, com quem formar uma banda.

Na vida da CerciOeiras, onde esta iniciativa enche as salas de música todas as semanas, as terapeutas Ana Isabel Dias e Mafalda Roque apontam o efeito transformador que a música tem na vida dos habitantes da casa. Além de abrir o leque de comunicação, a música ajuda-os na improvisação e na concentração.

Mas as “Notas de Contacto” não tocam apenas os utentes – moldam também os próprios terapeutas.

A clarinetista Ana Maria Santos admite que trabalhar com estas pessoas com deficiência a levou a “a ver os obstáculos de uma forma mais leve”. E a coordenadora do projeto diz que está sempre a aprender com estes “músicos especiais”, como lhes chama o maestro Pedro Carneiro.

Também o maestro retira desta experiência outro ensinamento: “Notas de Contacto” é um projeto que, no seu entender, prova que os músicos “são aliados vitais na construção de todo o projeto político” e que, com a sua arte, podem fazer muito mais do que apenas dar concertos.

Berlim ainda emociona

O momento que mais marcou os participantes deste projeto – incluindo Carlos e Vanessa – foi a viagem a Berlim, onde a orquestra atuou no Festival Young Euro Classic. Perante uma plateia erudita, a orquestra tocou uma criação original de João Godinho. “Alcance” era o nome da obra, que foi premiada.

Passaram dois anos e as memórias ainda arrepiam a terapeuta de psicomotricidade Mafalda Roque. Ela recorda o momento em que Vanessa fez um solo. Carlos também não esquece os aplausos que receberam e a forma como a atuação deles emocionou os participantes.

A terapeuta Ana Isabel Dias confessa que ela própria não seria capaz de tocar perante tamanha plateia. Sobre os efeitos secundários benéficos deste “Notas de Contacto”, esta profissional – que está desde a primeira hora no projeto – conclui: “Muitas das vezes pensa-se mais no que a pessoa não é capaz de fazer, e este projeto mostra o que as pessoas são capazes de fazer”.