Discurso de ​Passos “copia” Poiares Maduro
12-07-2017 - 18:39

No debate do Estado da Nação, o discurso do líder do PSD usa várias passagens de uma publicação do seu ex-ministro no Facebook. Sem citar. Compare os textos.

Uma passagem do discurso de Pedro Passos Coelho no debate do Estado da Nação desta quarta-feira tem várias frases iguais ou parecidas com um texto publicado no Facebook pelo ex-ministro Miguel Poiares Maduro.

Ao longo das nove páginas de discurso do líder do PSD, encontramos oito parágrafos decalcados ou inspirados do “post” do antigo ministro do Governo de Passos. Na sua intervenção, o presidente do PSD nunca cita Poiares Maduro.

Fonte oficial do PSD respondeu, por escrito, à Renascença que “é natural que o líder da oposição receba contributos de pessoas que lhe são próximas", manifestando estranheza pelo interesse da comunicação social nesta “pequena parte do discurso”, que tem “várias páginas”, do líder do partido.


Leia a passagem do discurso de Passos Coelho:

“- Um primeiro-ministro diz ao país que aceitou o pedido de demissão de secretários de Estado para estes poderem solicitar ser constituídos arguidos e depois descobre-se que, afinal, resignaram porque já tinham percebido que iriam, de qualquer modo, ser constituídos arguidos;

- Um primeiro-ministro informa o Parlamento que a retirada de três territórios da lista de paraísos fiscais foi feita depois de consultados os serviços técnicos mas afinal os serviços técnicos não foram tidos nem achados na decisão que não está, sequer, fundamentada face aos critérios dispostos na lei;

- Um primeiro-ministro, depois de andar um ano a prometer solucionar o problema do crédito malparado, afirma publicamente que o Governo e o Banco de Portugal estão a concluir negociações com as instituições europeias para adoptar finalmente uma solução, mas, poucos meses depois, pela voz de uma administradora do Banco de Portugal, vem-se a perceber que, afinal, não existia solução porque as regras europeias não o permitem;

- O Governo informa que solicitou um parecer técnico independente sobre um contrato na PPP SIRESP e depois descobre-se que, afinal, o parecer foi solicitado a quem tinha assessorado o contrato inicial;

- Um Governo diz que aumenta o orçamento dos serviços e que a austeridade acabou, mas depois impede os serviços de gastarem o aumento e, em alguns casos, até se constata que o gasto foi inferior ao que era antes, em particular quando se excluem os gastos com salários;

- Um Governo desfila pelo palco da tragédia de Pedrógão e, passado um mês, ainda nem sequer teve a capacidade de apresentar formalmente a Bruxelas o pedido de ajuda financeira para acorrer às pessoas;

- Uma maioria parlamentar propõe-se encerrar um inquérito à CGD antes da decisão judicial que autorizaria o acesso aos documentos fundamentais para apurar os respectivos factos;

- É difícil, senhor presidente, minhas senhoras e meus senhores, não encontrar nesta sequência um padrão, que se estende a muitos outros exemplos. Estou certo que, em muitos países, e sobretudo naqueles com os quais gostamos de nos comparar, isto seria considerado grave. Infelizmente, pelo nosso país, há hoje quem encontre nesta forma de proceder traços de genialidade ou de grande habilidade política."


Compare com a publicação de Miguel Poiares Maduro no Facebook:

“Um PM diz ao país que aceitou o pedido de demissão de Secretários de Estado para estes poderem solicitar ser constituídos arguidos e defenderem a sua honra e depois descobre-se que afinal resignaram porque já tinham sido constituídos arguidos.

Um PM informa o parlamento que a retirada de três territórios da lista de paraísos fiscais foi feita depois de consultados os serviços técnicos mas afinal os serviços técnicos não foram tidos nem achados.

O Governo informa que solicitou um parecer técnico independente sobre um contrato e depois descobre-se que afinal o parecer foi solicitado a quem tinha assessorado o contrato inicial.

Um governo diz que aumenta o orçamento dos serviços mas depois impede-os de o gastar….

Uma maioria parlamentar encerra um inquérito antes da decisão judicial que autorizaria o acesso aos documentos fundamentais para apurar os factos objecto desse inquérito.

Há um padrão nestes e noutros exemplos.

Em muitos países isto seria grave.

Em Portugal será descrito como génio politico!”