Cultura digital exige “nova linguagem”, reconhecem bispos de Portugal e Espanha
05-06-2019 - 14:44
 • Ângela Roque com Ecclesia

Responsáveis das conferências episcopais dos dois países querem ajuda dos jovens para comunicar melhor e pedem aos media que “respeitem a verdade, a dignidade humana e o bem comum”.

A Igreja deve ter uma atitude mais ativa, e não reativa, na forma como comunica. “Foi um dos pontos sublinhados nos trabalhos, em que fomos ajudados por peritos na área académica e com experiência nos media” sublinhou, no final do encontro, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais de Portugal.

Lembrando que “a Igreja sempre foi ao encontro de todos os povos”, D. João Lavrador considera que “hoje também deve ser capaz de comunicar, sobretudo através das redes sociais”, mas deve estar atenta aos “sinais dos tempos”, e oferecer “uma leitura, uma perspetiva para todos os acontecimentos”. O papel da Igreja nesta área torna-se, ainda, mais relevante tendo em conta que muitas vezes “a comunicação social, dado o seu desejo e às vezes até a sua necessidade de subsistência, vai por caminhos que o Papa condena, como as chamadas “fake news”, que não salvaguardam a dignidade humana nem o bem comum”.

Para este responsável, “a Igreja tem por dever denunciar essas situações e propor uma leitura dos acontecimentos que se paute pela sua doutrina social, e tenha sempre o Evangelho muito presente. Porque a dignidade humana está sempre muito salvaguardada através do Evangelho. Portanto, a Igreja tem de ser, de alguma maneira, pioneira nessa leitura e nessa proposta”, referiu.

Outras das conclusões do encontro está relacionada com a ajuda que os jovens, ‘nativos digitais’, podem dar à Igreja, para que esta saiba estar nas plataformas onde hoje mais se comunica, como é o caso das redes sociais. “Isso é imprescindível. Temos de contar com os jovens, por uma questão de cultura. É que o digital para jovens, hoje, já não é apenas um meio, como é por exemplo para nós, de outra idade. Nós utilizamos, eles não, eles vivem no digital, vivem nas redes sociais, transmitem-se a si próprios com tudo o que é a sua vida, vivem transmitindo sentimentos e conhecimentos através das redes. É uma cultura, é uma forma de estar”.

“Tenho dito muitas vezes, até na Diocese onde estou, que, ou nós colocamos os jovens com protagonismo próprio, deixando que nos ajudem com a sua linguagem, para que todos estejamos em sintonia, ou eles não nos entendem, e o futuro está de alguma maneira ameaçado. Ou as nossas comunidades contam com os jovens, com a sua linguagem e cultura, ou daqui a uns anos não teremos comunidades cristãs”, sublinhou ainda D. João Lavrador, para quem a próxima Jornada Mundial da Juventude vai ser uma prova de fogo para Portugal, em matéria de comunicação. “É um grande desafio para a Igreja, podermos ter em conta o protagonismo juvenil nesta cultura digital”, afirmou.

“Criar comunidades humanas no contexto das comunidades digitais” foi o tema do encontro anual que reuniu, de 3 a 5 de junho, em Palma de Maiorca, os responsáveis pela comunicação da Igreja de Portugal e Espanha, e no qual participaram peritos dos dois países e delegados dos meios de comunicação das três dioceses das Ilhas Baleares.

No comunicado final os bispos ibéricos reconhecem que “a velocidade e fugacidade das mudanças suscitadas pela comunicação digital afetam radicalmente o modo de trabalhar”, a “relação entre as pessoas” e até a forma de “viver no mundo”.

Mas, garantem que “a Igreja quer estar cada vez mais próxima para acompanhar todos, especialmente as crianças e os jovens”, e pedem aos media que “respeitem a verdade, a dignidade humana e o bem comum, propondo caminhos de desenvolvimento integral”. No caso dos meios de comunicação ligados à Igreja, a sua atividade “há de medir-se sobretudo em chave de evangelização”.

“Temos de assumir a necessidade, hoje cada mais vez urgente, pelo contexto digital em que vivemos, de uma comunicação ativa que não responda tão só aos problemas do dia a dia, mas que seja capaz de criar um ambiente na comunicação em que a mensagem cristã se antecipe e seja a referência”, sublinham ainda os bispos. “Devemos saber trabalhar no backoffice da sociedade, a rede que ajuda a compreender a pessoa segundo a proposta cristã”, lê-se ainda no texto.

Portugal esteve representado neste encontro anual pelos bispos que compõem a Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais (D. João Lavrador, D. Nuno Brás, D. Américo Aguiar, D. Pio Alves e D. Amândio Tomás), e pelos representantes do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, Isabel Figueiredo e Paulo Rocha.