O favoritismo no grupo da Mannschaft é evidente, mas olhando para as participações recentes em grandes torneios e para vários dos testes de preparação, há sempre razão para alguma desconfiança.
Fica a impressão que Julian Nagelsmann soube entender as necessidades da equipa em termos estratégicos, táticos e até de escolhas individuais na lista para os particulares de março. Apostou num desenho em 4-2-3-1 para os duelos com França e Países Baixos e a equipa mostrou um critério considerável com bola e uma dinâmica ofensiva agressiva, idêntica à que revelou nos momentos sem bola - sobretudo no embate com os gauleses.
Na lista final para o Europeu, o selecionador germânico até pode ter surpreendido muita gente ao deixar de fora nomes emblemáticos como Mats Hummels, Leon Goretzka ou Julian Brandt, mas ninguém o pode acusar de falta de coerência, atendendo ao grupo que parecia já ter assumido de forma (quase) definitiva há pouco mais de dois meses. O facto de ter repetido o onze em dois jogos de preparação consecutivos aponta igualmente o caminho a seguir para um treinador que desde sempre foi conhecido pelas múltiplas variantes táticas que consegue imprimir às equipas que orienta - incluindo no mesmo jogo.
A figura é Toni Kroos: depois do 23º troféu pelo Real Madrid, a busca pela glória europeia na despedida da seleção alemã e do futebol (já depois do título mundial de 2014). O mestre do passe, descobridor por excelência das melhores soluções para fazer qualquer equipa avançar com bola e dono de um sentido posicional ímpar. Vai custar despedirmo-nos dele.
Nagelsmann junta nomes com vasta experiência como o retornado Toni Kroos (fecha uma brilhante carreira neste torneio), os guarda-redes Manuel Neuer e ter Stegen, o conector ofensivo de excelência Thomas Müller ou o capitão İlkay Gündoğan, peça-chave da manobra da 'sala de máquinas' germânica, não fechando os olhos a muitas das figuras da temporada, sobretudo a nível interno.
Do sensacional campeão Bayer Leverkusen até à Mannschaft, viaja o já ‘experiente' Jonathan Tah e um Robert Andrich que pode até assumir o estatuto de titular a partir de dia 14 (seguindo a lógica dos últimos particulares). Já o surpreendente vice-campeão Estugarda ‘entrega' à equipa nacional o imponente central Waldemar Anton, o lateral ofensivo (pela esquerda) Maximilian Mittelstädt, o criativo com golo Chris Führich (fortíssimo nos movimentos de fora para dentro) ou o segundo avançado goleador Deniz Undav.
Jovens revelações como Alexander Pavlovic (época soberba no Bayern, revelando critério na saída e capacidade de ocupação de espaços) ou o avançado Maximilian Beier (Hoffenheim) também acabam escolhidos, numa lógica de renovação embrulhada com num processo de crença em nomes novos alternativos que possam fazer a diferença em todo o tipo de cenários. Nagelsmann é também ele, com todas as críticas que se lhe possam apontar noutros departamentos, um homem que sabe aproveitar o talento mais imberbe para dar irreverência às suas equipas.
Várias são as questões que se colocam ainda neste momento, mais numa lógica de tomada de decisão de escolhas individuais: será que o talentoso e seguro Nico Schlotterbeck supera a prioridade dada a Jonathan Tah nos tempos mais recentes? Irá Nagelsmann seguir a linha de raciocínio de Arteta, testada também por ele com sucesso em março e privilegiar a escolha de Havertz como referência ofensiva da equipa? Como vai gerir a 'luta de galos' para a baliza entre Neuer e ter Stegen?
Dúvidas normais, saudáveis até e próprias de um dos grupos com mais qualidade individual deste Euro. Será suficiente para arrebatar o troféu? Não partindo no topo das equipas favoritas, a Alemanha tem razões para acreditar em si mesma e não será certamente pelo fator casa...