“Não contávamos com estas restrições, por isso fomos surpreendidos”
10-11-2020 - 22:53
 • Ângela Roque

Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa diz que já estava previsto os bispos debaterem os “desafios pastorais” que a pandemia trouxe à Igreja. Mas, na Assembleia Plenária que arranca esta quarta-feira, em Fátima, não deixarão de abordar a proibição de circular em boa parte do fim-de-semana, decretada pelo Governo, e que os apanhou de surpresa.

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A "Reflexão sobre os desafios pastorais da atual pandemia à Igreja em Portugal" é apenas um dos oito pontos previstos na agenda da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que vai decorrer até ao próximo sábado, em Fátima, mas promete dominar boa parte dos trabalhos, tendo em conta que as novas restrições à circulação, aprovadas no âmbito do Estado de Emergência, implicam diretamente com as atividades ao fim de semana e vão obrigar as dioceses a tomar decisões rápidas nos próximos dias.

Em declarações à Renascença o porta-voz da CEP reafirma “compreensão” para com as novas medidas, pensadas “para combater a pandemia que está numa intensificação cada vez maior na sua gravidade”, mas não esconde que não terem sabido antes apanhou os bispos de surpresa. “Naturalmente que depois houve diálogo com as autoridades sobre o assunto, mas fomos surpreendidos, no sentido de que não contávamos com essa restrição, que implica as celebrações na parte da tarde de sábado e de domingo, porque as pessoas têm de se deslocar. Foi nesse sentido que ficamos surpreendidos”, explica.

Recusando comentar se o Governo devia ter informado previamente a igreja, o padre Manuel Barbosa diz que “certamente que não se pode, em cima da situação, estar a consultar todos os setores da sociedade”. E acrescenta: “sei que nos 121 concelhos onde há esta restrição, há liberdade de circulação para os ministros de culto, embora nesses períodos de não circulação, naturalmente, não havendo celebrações, não é necessário circular”.

Face às restrições em vigor, caberá a cada diocese determinar como fazer com a catequese, as atividades escutistas, mas também com os velórios, funerais e, claro, as missas, que à tarde não poderão ser celebradas nos concelhos abrangidos. “Cada bispo na sua diocese verá como agir e adaptar-se, com criatividade. O importante é que não se perca o sentido da celebração, das iniciativas pastorais de maneira presencial e também por outras vias, porque não é possível neste momento participar de forma presencial em todas as situações”.

Algumas dioceses já deram essas indicações. Foi o caso da diocese do Porto, que suspendeu “a atividade presencial nas comunidades durante o recolhimento obrigatório”, da diocese de Viseu , que suspendeu “a Missa na tarde de domingo”, e tal como a de Setúbal, sugere que se celebre a Eucaristia vespertina de sábado durante a “manhã”.

“Alguns põem isso em questão, mas o importante é que seja celebrada e as pessoas, dentro dos cuidados de saúde e de segurança, possam celebrar a sua fé na própria comunidade”, explica o padre Manuel Barbosa.

Bispos em videoconferência

Por uma questão de precaução e segurança, a própria Assembleia Plenária da CEP vai decorrer com vários bispos a participar por vídeo-conferência. “É a primeira vez que acontece desta maneira. Há um grupo de bispos que vai estar presente, inscreveram-se livremente. Os do Conselho Permanente vão estar quase na sua totalidade, metade bispos diocesanos e auxiliares estarão presencialmente em Fátima, mas os outros participação nas sessões por Zoom”. Alguns irão só no sábado para participar na Missa de sufrágio pelas vítimas da pandemia, prevista para as 11h.

Da reflexão que fizerem sobre “os desafios pastorais da atual pandemia” deverá sair “um documento de fundo, para a própria Igreja”, explica, adiantando que “será na linha do documento que divulgámos em junho, em que fizemos uma reflexão mais específica sobre a sociedade. Este trará uma acentuação de alguns aspetos e dimensões da vida da Igreja que é preciso retomar, face à situação em que estamos, que é pontual, mas a Igreja é de sempre e são esses dinamismos de sempre que têm de ser renovados e recuperados”.

Proteção de menores também em agenda

Desta Assembleia Plenária da CEP deverão sair novas "Diretrizes sobre a proteção de menores e pessoas vulneráveis na igreja", conforme consta da agenda de trabalhos. “Foram trabalhadas pela Conferência episcopal e por alguns especialistas, a quem se pediu a elaboração do texto base, em colaboração com o Grupo de Trabalho da Santa Sé que foi nomeado para acompanhar as conferências episcopais”, explica o porta-voz da CEP, lembrando que já deviam ter sido apreciadas na Assembleia anterior, mas não foi possível.

As novas diretrizes “têm em conta aquilo que já foi produzido anteriormente pela Santa Sé”, nomeadamente o Vademecum publicado em julho, “um instrumento muito jurídico e muito preciso, de orientação para todas estas questões”, do qual constam os procedimentos que devem ser seguidos nos casos de abuso sexual de menores cometidos por sacerdotes.

Nesta reunião em Fátima os bispos vão, ainda, analisar um "Estudo sobre o Diaconado Permanente". “É uma proposta da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, importante para aqueles que estão nessa linha de serem diáconos permanentes, e para os que têm a missão da sua formação”.

Entre as nomeações que deverão sair desta Assembleia Plenária deverá estar a do novo presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, em substituição de D. Anacleto Oliveira, eleito para o cargo em junho, mas que faleceu em setembro, vítima de um acidente de viação.