Anatomia do golo do título. Herrera "gelou" a Luz aos 90'
05-05-2018 - 23:00

Jornada 30. Benfica-FC Porto. 0-0 no marcador. Até que o capitão encheu o pé e encheu-se de fé para dar ao dragão uma liderança que jamais perderia, rumo a um título que escapava há quatro anos. Esta é a estória de um golo que entrou para a história.

Costuma associar-se a golos apontados ao minuto 90 a ideia de que "caem do céu aos trambolhões", recheados de sorte e felicidade.

Sobre o caso do golo que fez o FC Porto regressar à liderança isolada do campeonato, da qual não mais sairia até à conquista do título, nada mais falso se poderia dizer.

Jornada 30. Final da tarde de domingo, 15 de abril de 2018. Estádio da Luz lotado para ver o Benfica, na altura primeiro classificado, receber o FC Porto, segundo, com um ponto de atraso.

Jogo fechado, sem grandes ocasiões de golo, com muito contacto e muita bola disputada a meio-campo. Não foi o melhor espetáculo de futebol de que há memória, nem de perto nem de longe, mas a realidade é que, do ponto de vista tático, foi um jogo rico e cheio de "sumo".

O minuto 75 traria a substituição que tanta tinta fez correr e que teve em Rui Vitória o epicentro de críticas e assobios. O técnico dos encarnados subtraía Cervi e acrescentava Samaris, na tentativa de segurar o meio-campo e, claro, o nulo que manteria a águia em vantagem na corrida pelo histórico penta.

No outro banco, Sérgio Conceição observava a "marcha-atrás" do homólogo benfiquista e, quatro minutos mais tarde, começaria a escrever estória de uma vitória que entraria para a história. Otávio recebeu guia de marcha, entrou Corona.

O dragão ganhava largura e velocidade nas alas. E obrigava o adversário a deixar de canalizar atenções no "miolo". Tanto que, no risco que era possível protagonizar em busca do golo, os azuis e brancos foram determinados e eficazes.

89m31s

Óliver Torres iniciou a jogada e rompeu, pelo corredor central, na direção de Brahimi. O argelino virou-se para o sentido de progressão e vislumbrou Marega com espaço para desequilibrar, à entrada da área.

O maliano soltou a bola, "redondinha", em Aboubakar - havia entrado para o lugar de Soares - que perdeu tempo e espaço para o remate, sendo desarmado pela "dobra" de Grimaldo. O problema é que o valenciano afastou como pôde e, com toda a gente a olhar para o vago, Herrera sentiu que nada tinha a perder.

"Vai já daqui", pensou o capitão portista. Numa primeira fase, dominou de pé esquerdo e, com o direito à disposição, e não obstante a pressão de Seferovic, aplicou um remate em "colher" que fez a bola sobrevoar Bruno Varela e "lamber" as redes encarnadas.

A Luz gelava, o calafrio pela espinha abaixo era inevitável. E Herrera seria o rei.