Escócia não abdica do referendo à independência. "É a democracia que está em jogo"
23-11-2022 - 11:50
 • Joana Azevedo Viana

Em reação à sentença do Supremo Tribunal britânico, que ditou hoje que a Escócia não pode convocar um novo referendo sem a autorização de Wesminster, Nicola Sturgeon anunciou um congresso extraordinário do SNP para delinear proposta de consulta, que "tem de ser legal".

A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, declarou-se esta quarta-feira "obviamente desapontada" com a decisão do Supremo Tribunal do Reino Unido, que esta manhã ditou que o governo autónomo escocês não pode convocar um referendo à independência do território sem o aval do Parlamento britânico, adiantando que o seu partido irá organizar um encontro extraordinário para debater os moldes de uma nova consulta popular.

Em declarações aos jornalistas, a também líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP, na sigla inglesa) indicou que "o caminho para alcançarmos a independência tem de ser legal e democrático" e referiu que as próximas eleições gerais no Reino Unido funcionarão como um referendo ao assunto.

"Agora que conhecemos o dítame do Supremo Tribunal e que um referendo de facto deixou de ser hipotético, é necessário acertar os detalhes precisos da proposta que pretendemos apresentar ao país", adiantou Sturgeon, indicando que será convocado um congresso do seu partido para delinear a proposta.

"Dada a magnitude destas decisões para o SNP, o processo para as alcançar deve envolver todo o partido de forma completa e ativa. Posso, por isso, confirmar que vou pedir ao Comité Executivo Nacional que convoque uma conferência especial do partido no ano novo para discutir e acertar os detalhes da proposta do referendo."

Até lá, adiantou a primeira-ministra escocesa, "o SNP irá lançar e mobilizar-se numa grande campanha em defesa da democracia escocesa, porque não tenhamos dúvidas: a partir de hoje, é a democracia que está em jogo".

Numa primeira reação no Twitter, Sturgeon tinha indicado que, "embora desapontada", repeita a decisão judicial, uma que, a seu ver, "não é lei, apenas interpreta a lei".

"Uma lei que não permite à Escócia escolher o seu próprio futuro sem o consentimento de Westminster expõe o mito de que o Reino Unido é uma parceria voluntária", indicou a governante naquela rede social, acrescentando que "a democracia da Escócia não será negada".

"A decisão judicial de hoje bloqueia uma via para que a voz da Escócia seja ouvida sobre a independência, mas numa democracia a nossa voz não pode ser nem será silenciada."

A Escócia e a Inglaterra estão politicamente unidas desde 1707, mas em 1999 a Escócia passou a ter em Edimburgo o seu próprio Parlamento e Governo autónomos, que são responsáveis por políticas de saúde pública, educação, agricultura, segurança e outros assuntos.

O Governo do Reino Unido sediado em Londres controla matérias como a defesa, política externa, imigração e política fiscal.

O Executivo britânico tem recusado até agora autorizar uma repetição da consulta realizada em 2014, quando 55% dos eleitores rejeitaram a independência.

O SNP argumenta que a saída britânica da União Europeia (UE) justifica uma repetição do referendo à independência porque o ‘Brexit’ foi aprovado por 52% dos britânicos mas rejeitado por 62% dos escoceses.