"Os emigrantes têm dois corações"
01-07-2019 - 10:56
 • Maria João Costa , André Peralta (sonorização)

Esta reportagem conta-lhe histórias de quem deixou tudo para trás. Portugueses que regressam e venezuelanos que abandonaram o seu país.

Na Venezuela, o clima de impasse político continua, com Nicolás Maduro no poder. Dados das Nações Unidas indicam que um quarto dos 30 milhões de habitantes precisa urgentemente de ajuda.

Alguns emigrantes portugueses naquele país têm optado por regressar. A Madeira, donde muitos são oriundos, tem vindo a acolher aqueles que resolvem deixar a Venezuela e tem visto como estes são emigrantes empreendedores.

Mas nem só os emigrantes estão a fugir de um país cheio de carências de alimentos, medicamentos e outros bens.

Joana Castelanos é uma venezuelana que decidiu rumar ao Funchal. Veio para Portugal com o marido, sobretudo por questões de saúde. O ar que respira na Madeira dá-lhe esperança, até porque na Venezuela o dia-a-dia era já demasiado difícil.

O casal está há dois anos na Madeira e agora, mesmo que houvesse uma mudança política na Venezuela, não quereriam voltar. A saúde está primeiro para Joana, que sabe que no seu país falha tudo nesta área, mesmo o mais básico dos medicamentos.

Também há dois anos foi criada a VeneCom, uma associação criada por uma antiga emigrante da Venezuela que dá apoio aos que regressam à Madeira. Ana Cristina nasceu na Venezuela e é filha de pais emigrados. Regressou à Madeira em busca da segurança. Tal como vêm agora outros emigrantes portugueses e cidadãos venezuelanos.

O bispo do Funchal, D. Nuno Brás, diz que muitos dos vieram integraram-se bem na comunidade. São portugueses de fibra, diz, que não querem depender do rendimento de inserção.

Há casos de maior dificuldade na integração, mas há muitos exemplos do empenho, refere ainda D. Nuno Brás.

Preocupante é também a situação de alguns emigrantes que, em Portugal, guardaram as suas poupanças em dois bancos: BES e Banif. “Deviam estar agora no grupo dos que não têm nada quando deveriam estar no grupo dos investidores”, diz a advogada Ana Cristina Monteiro.

A Madeira vai a votos em setembro para eleger o próximo governo regional. E a questão da Venezuela também surge no discurso dos candidatos. Com as eleições à porta, os emigrantes regressados da Venezuela são pessoas despertas para a questão da votação – pelo menos, na opinião de Ana Cristina Monteiro, da associação VeneCom. Eles, mais do que ninguém, dão valor ao ato democrático da eleição.

O direito de voto será exercido a 22 de setembro na Madeira, um dos lugares do coração dos emigrantes portugueses.