​J. Biden e a China
15-02-2021 - 06:44

A posição dos EUA frente à China não se alterou significativamente com J. Biden na Casa Branca. A opinião pública americana é hostil à China. Mas Biden dará mais importância do que Trump às dramáticas violações dos direitos humanos pelos chineses.

A posição dos EUA frente à China não se alterou significativamente com J. Biden na Casa Branca. A opinião pública americana é hostil à China. Mas Biden dará mais importância do que Trump às dramáticas violações dos direitos humanos pelos chineses.

Há menos de um mês na Casa Branca, Joe Biden reverteu muitas medidas tomadas por Trump. Mas quanto ao relacionamento de Washington com a China ninguém esperava alterações substanciais. A China tem vindo a piorar a sua imagem internacional, não pelo seu crescimento económico (ao qual regressou há meses), mas pelas suas práticas - espionagem económica, roubo de tecnologia, repressão interna cada vez mais feroz, agressividade nas relações com Taiwan, recusa de fornecer à Organização Mundial de Saúde todas informações sobre o coronavírus, etc. O relacionamento com a China não se conta entre as numerosas e profundas divisões da política americana. Também a UE tem vindo a tornar-se mais prudente nas relações com a China, nomeadamente as económicas.

Apesar de tudo, há diferenças entre a atitude de J. Biden e a do seu antecessor. Trump concentrou-se na guerra comercial contra a China. Tentou reduzir o défice comercial dos EUA com a China. Não o conseguiu, bem pelo contrário. Aliás, é muito redutor eleger uma balança comercial com saldo positivo como principal indicador de superioridade económica de um país.

Na semana passada J. Biden e Xi Jinping falaram ao telefone. E o novo presidente americano terá mostrado firmeza quanto á condenação pelos EUA da crescente violação dos direitos humanos pelo todo poderoso partido comunista chinês. Biden levantou o problema de Hong-Kong, onde a China viola o compromisso que assumiu com o Reino Unido quando Pequim retomou a soberania daquele território. Biden criticou as frequentes provocações militares da China a Taiwan, bem como as tentativas chinesas de tomar posições no mar do Sul da China. Naturalmente que Xi rejeitou essas críticas, considerando-as uma ingerência nos assuntos internos do seu país. Mas é significativo que, horas antes da conversa telefónica dos dois presidentes, navios de guerra da Marinha dos EUA tenham iniciado exercícios nas zonas marítimas que a China quer tornar suas.

Os direitos humanos não interessavam a Trump. E Xi Xinping desclassifica-os por serem, segundo ele, uma mentira ocidental para prejudicar os chineses. Mas J. Biden não ignorou a detenção pelas autoridades chinesas de mais de um milhão de pessoas, membros da minoria muçulmana uigure. Pequim não gosta de minorias, que vê como uma ameaça ao centralismo do partido comunista chinês. Por isso mandou isolar os uigures em campos de reeducação, a que chama “centros de treino vocacional”, onde os uigures são torturados, impedidos de praticarem a sua religião e de falarem a sua língua. Isto passa-se na região de Xinjiang, para a qual são forçados a migrar chineses e onde mulheres uigures são esterilizadas à força, de maneira a reduzir aquela minoria. Trata-se de um crime contra a humanidade.

Decerto que há áreas onde uma pragmática colaboração será vantajosa para ambos os países. É o caso do combate ao aquecimento global e às alterações climáticas, da limitação das armas nucleares no mundo e, acima de tudo, do imperativo de evitar um conflito nuclear, que seria trágico para chineses e americanos.

Neste último ponto, porém, é preocupante a presente reabilitação de Mao por Xi Xinping. Quando a China tinha 600 milhões de habitantes Mao declarou não se inquietar com a possibilidade de o seu país ser atingido por uma bomba atómica. Qual é o problema? Passaremos a ter 300 milhões de habitantes, disse. Ora hoje na China vivem 1 400 milhões de pessoas.