Apresentado como um “reduto de riquíssimo conjunto de espécies”, o Parque Natural da Peneda-Gerês não está imune a surtos de vírus fatais. Um estudo do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) vem comprovar que o vírus, que na década de 90 foi responsável pela morte de anfíbios, é o mesmo que, 30 anos depois, continua a dizimar várias espécies.
Em comunicado, a equipa de investigadores liderada por Gonçalo Rosa do cE3c indica que o Parque Natural “viu a comunidade de anfíbios colapsar a partir dos anos 90 devido a surtos de ranavirose”. A doença que tem “dizimado populações de anfíbios um pouco por toda a Europa, e principalmente na Península Ibérica”, afinal não está adormecida e continua a matar.
“Um estudo científico agora publicado veio reescrever a história”, explica o comunicado, que indica que a equipa “recorreu às coleções do Museu Nacional de História Natural e da Ciência para viajar décadas no tempo e analisar anfíbios recolhidos na região durante os anos 80”.
Os resultados surpreenderam os investigadores que “descobriram que os anfíbios das coleções também estavam infetados com ranavirus, cerca de 10 anos antes dos surtos e da introdução da perca-sol”, o peixe exótico invasor que se pensava ser responsável pela morte dos anfíbios.
“Quando comparadas as estirpes de ranavirus dos anfíbios e da perca-sol verificou-se que eram efetivamente diferentes, e que a mortalidade foi provocada pelo vírus que já estava em circulação desde os anos 80”, conclui o estudo.
Perante o facto descoberto, a equipa de investigadores interrogou-se sobre o que teria “acordado o vírus”. Os resultados indicam que, por um lado, a presença da perca-sol, “um novo predador no ecossistema”, terá desencadeado o aumento dos “níveis de stress e conduzido a uma disrupção do sistema imunitário dos anfíbios”. Por outro, esse desequilíbrio exponenciou a “suscetibilidade” dos anfíbios ao ranavirus.
A descoberta agora feita, explica o comunicado, “realça a importância de se proceder à remoção da perca-sol do Parque Nacional da Peneda-Gerês (e de outros ecossistemas), para que as populações de anfíbios possam recuperar a sua resistência ao ranavirus e prosperar”.
Segundo Gonçalo Rosa, a descoberta “veio demonstrar que os grandes surtos podem não acontecer pelo aparecimento de um novo agente patogénico, mas antes resultar da rutura de um equilíbrio ecológico estabelecido”, avança o comunicado.