Más e boas notícias da UE
12-02-2021 - 06:18

A visita de J. Borrell a Moscovo foi um fiasco, aliás cinicamente preparado pelos russos. Mas da Itália vieram sinais positivos: convidado a formar um governo de unidade nacional, Draghi aceitou o desafio. E já converteu Salvini a apostar no euro e na UE. Uma bancarrota financeira da Itália provavelmente significaria o fim do euro, que Draghi se prepara para salvar pela segunda vez.

A presidente da Comissão Europeia reconheceu, perante o Parlamento Europeu (PE), que houve demasiado otimismo quanto à produção de vacinas. Reconhecer um erro foi uma sensata mudança de atitude, que poderá relançar o prestígio e a força política de Ursula von der Leyen.

Menos disponível para reconhecer erros se mostrou o Alto Comissário da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, também perante o PE. Borrell foi convidado para visitar Moscovo por Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia. Borrel e os serviços diplomáticos da UE não perceberam que este convite era uma armadilha para humilhar a UE, que Putin faz tudo para enfraquecer (daí os eurocéticos, como M. Le Pen, simpatizarem tanto com Putin).

Em Moscovo Borrell teve que ouvir um ataque feroz à UE da parte de Lavrov, ao qual reagiu com frouxidão. Simultaneamente, Navalny, o corajoso opositor a Putin, cujos serviços secretos tentaram matar por envenenamento, era submetido a novo julgamento. E o governo russo expulsava diplomatas de três países da UE, Alemanha, Polónia e Suécia, acusando-os de terem participado em manifestações ilegais na Rússia, acusação não provada.

Para além da inépcia de Borrell, este fiasco da UE revela, uma vez mais, que a política externa comum é mais fantasia do que realidade. Veja-se a insistência alemã em não suspender o “pipeline” direto da Rússia à RFA através do mar do Norte (o chamado Nord Stream 2), agravando a dependência energética europeia em relação à Rússia. Mais importante, é uma ilusão a UE atuar como se fosse uma grande potência, entre os EUA e a Rússia. Para isso precisava de ter um dispositivo militar credível e não continuar abrigada sob o guarda-chuva nuclear e logístico americano. Repare-se que a RFA ainda está longe de dedicar à defesa 2% do seu PIB, meta a que se comprometeram os países da NATO.

Nem tudo são más notícias para UE. A extremamente delicada situação financeira e política da Itália voltou a ameaçar o euro. Receou-se que a crise governamental levasse para o poder o eurocético Matteo Salvini (apoiante do português André Ventura). Mas o Presidente da República de Itália saiu-se com uma iniciativa inesperada: convidou Mario Draghi para formar governo. E Draghi, que precisa dos votos de Salvini, chamou-o para o novo governo de unidade nacional. O que levou Salvini a passar de eurocético a euro entusiasta. Afirmou Salvini: “Com ele (Draghi) podemos estar na Europa de cabeça erguida.” Como Jorge Almeida Fernandes lembrou no “Público”, Salvini fez campanhas eleitorais com uma T-shirt dizendo “Euro nunca mais”.

Não é de estranhar esta cambalhota política da Salvini. Considerado um nacionalista soberanista, liderou anos a Liga do Norte, que queria partir a Itália e ficar com o Norte desenvolvido – um novo país a que chamaria Padânia. Estranha forma de nacionalismo.

Não é uma novidade a Itália ter um governo chefiado por alguém não partidário, mas com prestígio internacional. Entre 2011 e 2013 a Itália teve como primeiro-ministro o ex-comissário europeu Mario Monti. A novidade é que M. Draghi nunca foi político. Foi governador do Banco de Itália e, sobretudo, presidiu ao Banco Central Europeu entre 2011 e 2019. Ficou célebre a sua declaração de julho de 2012, em plena crise aguda da moeda única, prometendo que o BCE faria tudo o que fosse preciso, mas mesmo tudo, para salvar o euro. E cumpriu a sua promessa, apesar das dificuldades que lhe foram colocadas, sobretudo pelos ultraortodoxos alemães do Bundesbank. Quer dizer que Draghi, além de um economista de topo, é um homem de coragem que não receia obstáculos.

O anúncio de que Draghi iria tentar formar um governo de emergência foi bem-recebido na opinião pública italiana e nos mercados. Os juros da dívida pública italiana a dez anos desceram pela primeira vez abaixo de 0,5%. Uma bancarrota financeira da Itália provavelmente significaria o fim do euro, que Draghi se prepara para salvar pela segunda vez.

Enquanto presidente do BCE, Draghi passou anos a lembrar aos governos da zona euro que não bastava a política monetária para tornar o euro uma moeda sólida; era preciso que também colaborassem as políticas orçamentais. Por causa da pandemia, finalmente surgiu a chamada “bazuca” europeia. E é por causa desse enorme monte de dinheiro que os políticos italianos dificilmente se entendem – cada um quer mandar na distribuição dos apoios.

Nada garante que Draghi consiga formar um governo com alguma estabilidade. Mas ter aceite o desafio abriu uma esperança.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus