Jovens portugueses pouco satisfeitos com aspeto físico e com empregos
27-11-2021 - 00:01
 • José Pedro Frazão

Um estudo encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos revela que a felicidade dos jovens entre os 15 e os 34 anos depende muito da satisfação com o seu corpo, independentemente do género. A escolaridade melhora os indicadores, mas não ilude uma outra insatisfação generalizada: dois em cada cinco jovens com trabalho pago estão pouco satisfeitos com ele. O relatório com mais de 450 páginas é debatido este fim-de-semana num Encontro da FFMS no Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa.

A felicidade dos jovens com a vida, sejam homens ou mulheres, passa pela sua satisfação com o seu «aspecto físico e bem-estar». Um extenso estudo encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) à consultora espanhola PRM mostra que a percentagem dos que se sentem satisfeitos ou muito satisfeitos com o aspecto

físico não chega a um terço ( 27%). Pelo contrário, os que estão pouco agradados com a sua imagem chegam aos 52%, segundo o estudo agora divulgado com base numa amostra de 4904 jovens entre os 15 e os 34 anos de idade. Os questionários respondidos online foram recolhidos em junho de 2020. A faixa etária analisada tem correspondência em 2,2 milhões de portugueses, segundo dados do INE/ Pordata.

Os dados mostram que a satisfação com o aspecto físico não se distingue entre homens e mulheres, não melhora com a idade - dentro do universo considerado - e apenas aumenta ligeiramente com a maior escolaridade. Os investigadores salientam o papel do universo digital nesta realidade, testemunhando que "a satisfação média entre os jovens que utilizam as redes sociais mais de três horas por dia é inferior à dos que não as utilizam".

38% dos jovens dizem-se discriminados pela sua "aparência física", representando mesmo o maior factor de discriminação no universo de jovens inquiridos. "Entre as mulheres jovens, a posição é ainda pior do que entre os homens jovens: 42 % entre elas face a 33 % entre eles", pode ler-se no estudo.

Insatisfeitos com empregos

A aparência é um dos três maiores factores de pressão que os jovens dizem sentir, independentemente do género. A segunda maior pressão está no item «não desiludir os meus pais/a minha família», mas o sucesso profissional ou académico emerge como o parâmetro que mais pressiona os jovens representados neste estudo.

A insatisfação de quem tem emprego pago é evidente. Dois em cada cinco jovens que têm trabalho pago declaram-se "pouco satisfeitos" com esse emprego. Num raio-x aos que jovens que estão empregados ( 50% do universo da amostra recolhida ) 86 % trabalha por conta de outrem. No entanto, dentro deste universo, "em 51 % dos casos há um vínculo contratual instável, seja com contrato a «termo certo» ou «termo incerto» ou noutras situações. No que se refere ao valor dos rendimentos, perto de três quartos (72 %) auferem rendimentos que não ultrapassam os 950€ líquidos por mês".

Ter ou não ter estabilidade contratual reflete-se também no principal motivo que retém jovens em casa sobretudo depois dos 25 anos. São 16 % dos jovens, têm 26 anos de idade média e em 64% das respostas alegam que não saem de casa dos pais por «falta de trabalho, instabilidade económica sua ou do/a companheiro/a». O estudo revela que, em média, os jovens declaram que saíram definitivamente de casa dos pais aos 22 anos.

Estudar compensa no mercado de trabalho

Este relatório parece confirmar a tendência de outros trabalhos que sustentam uma relação entre maior escolaridade e melhores empregos, mais estáveis e bem remunerados.

Olhando para os jovens com ensino superior completo, 80% tem trabalho pago, por comparação com os 65% que apenas concluíram o secundário ou os 54% que ficaram pelo ensino básico. Os investigadores concluem que um maior nível de escolaridade equivale a vínculos contratuais mais estáveis e a maior satisfação com o seu trabalho.

Na comparação dos rendimentos mensais líquidos " entre os que têm menos formação não há praticamente jovens que ganhem mais de 767 euros líquidos por mês" contrastando com os que têm mais formação em que "dois terços auferem mais do que esse valor".