Num lapso pouco habitual nele, o líder do PSD, Rui Rio, disse há dias não haver racismo em Portugal. Não há, certamente, à escala em que ele persiste nos EUA, por exemplo. Mas basta reparar no diminuto número de negros em posições de destaque, na vida pública e na vida privada do nosso país para se tornar óbvia a existência, entre nós, de discriminação racial.
Os últimos dias mostraram que há em Portugal grupos que cultivam um racismo agressivo. O que foi escrito nas paredes exteriores de algumas escolas revela ódio, incluindo ódio aos refugiados, e sugere a expulsão ou mesmo o assassinato de minorias étnicas. Quem pensa assim não representa, decerto, a maioria dos portugueses. Mas não deixa de ser preocupante.
Tanto mais que, no sábado passado, uma nota publicada no site da Procuradoria Geral da República dá conta de que foram acusados 27 “skinheads” que exaltam a “superioridade da raça branca”.
Entre estes encontram-se neonazis já condenados no processo do assassinato do cabo-verdiano Alcindo Monteiro, espancado no Bairro Alto, em Lisboa, em 1995. Estas condenações, note-se, foram as primeiras em Portugal por discriminação racial.
As acusações agora anunciadas incluem crimes de violenta discriminação racial, religiosa e sexual, bem como de tentativas de homicídio. Mas não só: também constam do processo acusações de ofensas à integridade física, incitamento à violência, dano com violência, detenção de arma proibida, roubo, tráfico de estupefacientes e tráfico de armas.
Hoje são bem conhecidas as monstruosas atrocidades cometidas pelo nazismo na Alemanha, culminando no “holocausto”. Por isso é estranho, mas é infelizmente verdade, que haja quem queira regressar ao nazismo. Acontece na Alemanha, nos EUA e em vários outros países.
Portugal não está imune a essa praga, que está imersa na criminalidade. Praga que será tanto mais de recear quanto estes pretensos “nacionalistas” se organizam numa rede internacional, porventura com o apoio da extrema-direita americana.
Perante o neonazismo torna-se clara a real importância do partido Chega. Com este partido o populismo chegou ao parlamento português. É lamentável. Mas, embora sejam inaceitáveis numerosas propostas do Chega (como a hostilidade aos ciganos), percebe-se que muitas das afirmações mais escandalosas de André Ventura decorrem mais do seu oportunismo – tornar-se popular, ganhar votos – do que de uma convicção pessoal. Já os neonazis apostam no mal por profunda convicção. Adoram Hitler e a sua cultura de morte. Por isso são mais perigosos.