Daniel Leitão, humorista, analista financeiro e "uma espécie de Nuno Rogeiro", tem rúbrica nova na Renascença
16-06-2020 - 19:00
 • Renascença

Chama-se “Perguntei ao Vento”, já estreou, e pode ouvi-la às terças e quintas-feiras n’As Três da Manhã. Pergunte o que quiser ao Daniel, que ele (entendido em todos os assuntos, como aqueles comentadores de TV que dominam todas as matérias) responde. Mesmo que não saiba, responde.

- Parti uma jarra em casa da minha sogra. Devo culpar o meu filho de quatro anos?

- Ganhei uma viagem às Maldivas num passatempo… mas é só para uma pessoa. Como digo à minha mulher que ela não vai?

- O meu chefe diz que me vai promover – mas, para isso, vai ter que despedir alguém na empresa. Recuso?

Quem nunca se viu perante tais dilemas, atire a primeira pedra. Ou melhor: não atire, que ainda é coisa para acertar em alguém ou partir um vidro e depois é uma carga de trabalhos para si. Pergunte só.

A resposta vai tê-la no “Perguntei ao Vento”, a novíssima (já estreou, mas ainda cheira a novo) rúbrica humorística assinada por Daniel Leitão, todas as terças e quintas-feiras, n’As Três da Manhã da Renascença.

Lá, Daniel responde (recusando ao “porquê?” um mero “epá, porque sim, não sejas chato!”) a perguntas que precisam de resposta urgente, não necessariamente existencialistas, isso fica para filósofos de bigodes frondosos como Friedrich Nietzsche ou o senhor Hermenegildo do café/snack-bar “O Escondidinho” em Figueira de Castelo Rodrigo, não necessariamente fraturantes na sociedade, como a discussão em torno do ananás na pizza.

O truque de bem responder, garante Daniel, é o mesmo utilizado por outros comentadores, não radiofónicos, mas televisivos, como Moita Flores ou Nuno Rogeiro, que aparentam dominar toda e qualquer matéria: a convicção.

“Se vou ser um ‘Nuno Rogeiro do humor’? Um Nuno Rogeiro ou um Moita Flores. Sou um bocado como eles os dois. Mas normalmente quem pergunta é porque também não sabe bem, bem a resposta. Portanto, se tu disseres com convicção a resposta, as pessoas não vão duvidar da tua palavra. E pior do que já estavam não ficarão. Portanto, sim, talvez venha a ser um Nuno Rogeiro mais light, sem o fato e a gravata, mas com o mesmo rigor.”

Ambições, além de responder às dúvidas de ouvintes e quem mais vier, Daniel tem uma – e envolve música. É que “Perguntei ao Vento” é também o primeiro verso do célebre tema “A Queda do Império” de Vitorino – que, nem de propósito, serve de jingle a esta rúbrica. Mas quando se “googla” perguntei ao vento”, Vitorino ainda é mais “trend” (que é como quem diz, mais popular na Internet) que Daniel.

“Não posso dizer que vou ultrapassar o Vitorino. Quem me conhece, sobretudo quanto à minha fisionomia, sabe que eu não tenho a ambição de ultrapassar ninguém. Nem conseguia mesmo que quisesse. Era engraçado ultrapassar a canção do Vitorino, mas se só aparecer lá no meio das pesquisas relacionados já é bom.”


Veja aqui o primeiro “Perguntei ao Vento”:


O percurso de Daniel Leitão começou no guionismo, assim foi por “um, dois anos”, até que resolveu dar corpo, literalmente corpo, aos textos por ele escritos e aventura-se no “Caça ao Cómico”, um programa que pretendia descobrir novos talentos na stand-up comedy. E como este “Perguntei ao Vento” é mesmo para se perguntar tudo: porquê?

“Quando tu escreves, estás sempre a escrever para outras pessoas, fosse para rádio, fosse para televisão, vês o resultado final, mas nunca tens o ‘feedback’ imediato. Ao atuar ao vivo, em stand-up, tu tens na hora, para o bem e para o mal, aquilo que é o fruto do teu trabalho e aquilo que estás a entregar ao público. E apesar de toda a gente que atua ao vivo me dizer sempre que é difícil, que há nervos, que há isto, que é aquilo, a verdade é que todos eles continuam a fazer e alguma coisa terá de bom. Quis experimentar e acabei por gostar da sensação.”

Continuou a ser guionista, continuou a fazer pequenos espetáculos ao vivo, também fez programas de sketches, como 'Não, não e não', do Canal Q, e apresentou “Altos & Baixos” (que até saltou do pequeno ecrã para os palcos) ao lado – e 45 centímetros mais para cima – de Joana Marques. Mas o que continuou também a ser foi analista financeiro, uma profissão que Joana descreve como “digna”.

“Eu gosto de ser analista. E acho que foi por isso que nunca tomei a decisão de não ser. E também é sempre um bocado arriscado estares a atirar-te de cabeça para uma coisa sem saber bem o que é que aí vem. Até hoje, tudo o que tenho feito nunca foi nada que procurei, são projetos que me propõem fazer, que vêm ter comigo. Mas ser analistas financeiro e humorista também é 'tricky': às tantas sinto que não pertenço nem a um mundo nem a outro. No mundo do humor, sou o tipo que trabalho com números; no outro lado é o contrário: lá vem este tipo que tem a mania que tem piada. Acaba por ficar sempre ali num híbrido.”

Enquanto Joana Marques, a mulher, vai só ali um tempo resolver questões ao nível da maternidade, Daniel toma sozinho as rédeas humorísticas na manhã da Renascença. Mas será que a Joana vai sofrer da síndrome “Paulo de Carvalho-Agir” e voltar para ser apelidada de “olha, é a mulher do Daniel, não é?”

“Eu neste momento sou 'o marido da Joana Marques'. Porque não inverter papeis? Mas no nosso caso não é tão grave como no do Agir e do Paulo de Carvalho. Nós nem damos muita importância a isso, até achamos piada quando as pessoas se referem a um ou a outro como 'o marido da' ou 'a mulher do'.”