Populismo “vai chegar mais tarde ou mais cedo a Portugal"
22-06-2018 - 19:53

Miguel Poiares Maduro, convidado do “Conversas na Bolsa”, admite que os populismos ainda só estão nos clubes de futebol, mas podem chegar à política.

"A politica é cada vez mais baseada numa identidade emocional e não racional". O ex-ministro Miguel Poiares Maduro, o convidado das “Conversas na Bolsa” deste mês, alerta para os perigos do populismo que está a alastrar na Europa.

Poiares Maduro admite que o movimento “vai chegar mais tarde ou mais cedo a Portugal”.

O ex-ministro identifica como um problema relevante “a mudança fundamental no comportamento da juventude em relação à politica”, recordando que “durante anos os jovens manifestaram a sua insatisfação não participando, ou não intervindo politicamente”.

Poiares Maduro lembra que “estamos a assistir em alguns países europeus a algo que mais cedo ou mais tarde vai acontecer em Portugal” e que é o facto dos jovens terem “começado a participar politicamente através de movimentos políticos alternativos”. O professor dá o exemplo da Áustria que viu ascender ao poder “um chanceler de 31 anos ou os casos de Espanha com o Cidadãos e o Podemos ou da Itália com o 5 Estrelas e a Liga”.

Neste contexto, Poiares Maduro alerta: “se a classe politica tradicional não alterar comportamentos e não tiver perspetiva, o que vai acontecer é que vão surgir novos movimentos políticos, vão surgir novos atores políticos e vão ser eles que vão tomar conta da politica”. E acrescenta, o ex-ministro: “não necessariamente pelas melhores razões, nem necessariamente com a melhor participação”.

O convidado deste mês de junho das “Conversas na Bolsa” diz que “esse é o grande desafio que temos pela frente”, lembrando que, por agora, “em Portugal o populismo está nos clubes de futebol, mas pode facilmente entrar na politica”.

Miguel Poiares Maduro lembrou a crise das dívidas soberanas na Europa e as discussões que o tema provocou sobre a origem do problema; se por causa dos devedores, se por causa dos emprestadores de divisas. E recordou que “as democracias nacionais já não conseguem assegurar o seu autogoverno”, o que “dificulta depois o julgamento politico por parte dos cidadãos”. Ou seja, “os cidadãos não sabem já o que é realmente produto de decisões dos seus governos ou de decisões tomadas fora do seu Estado”. O que potencia, na opinião do ex-ministro, “a possibilidade dos agentes políticos nacionais de usarem esta assimetria para manipular o funcionamento da politica”.

Poiares Maduro defende que “em Portugal nos temos um número completamente desproporcionado de canais de noticias relativamente a outros Estado” que leva a que “cada vez mais a politica seja determinada pelo curtotermismo”. O que quer dizer que “a política responde aos incentivos de curto prazo” e isso significa que “cada vez menos é capaz de incorporar nas decisões politicas os impactos de médio e longo prazo na sociedade”. E isso, conclui, Poiares Maduro “gera um problema democrático de falta de representação dos interesses das gerações futuras”.