“Dar presentes solidários faz todo o sentido”
26-11-2022 - 08:25
 • Ângela Roque

No Convento dos Cardaes, em Lisboa, foi retomado o "Chá de Natal" e a venda de produtos confecionados na instituição. Iniciativa decorre aos fins de semana e feriados, até 18 de dezembro. As receitas destinam-se à compra de mobiliário para a casa das irmãs dominicanas onde vivem 32 jovens adultas com necessidades especiais.

O Natal Solidário está de volta ao Convento dos Cardaes, em Lisboa. A instituição - que acolhe 32 utentes com múltiplas deficiências - retomou a iniciativa que já era habitual antes da pandemia.

“Depois de dois anos em que todos estivemos fechados, ou confinados, reabrimos este evento de que os lisboetas muito gostam, tal como os nossos amigos e doadores. Todos gostam deste espaço, do ambiente e de partilhar. Para além de tomarem o seu chá, comerem os famosos scones e outros bolos, fazem aqui as suas compras para darem presentes solidários aos seus amigos”, explica à Renascença a irmã Ana Maria de Sousa Vieira, responsável pela instituição.

Assim, até 18 de dezembro, todos os fins de semana e feriados, é possível lanchar no claustro e passar pela loja para comprar produtos feitos no Convento. “Para o chá, temos os scones, que já têm fama, e diversas qualidades de bolos: de laranja, noz, os brownies, o bolo inglês. Na loja temos os chutneys, as compotas e marmeladas, o vinagre balsâmico e os piri piris. É uma panóplia de produtos sempre muito bem embalados”, explica a responsável pela instituição, para quem “dar um presente solidário faz todo o sentido. Quando compram um frasco de doce, ou os biscoitos, estão a ajudar uma causa”.

O que angariarem este ano já tem destino. “Fizemos uma obra de grande envergadura, de remodelação da instituição, que era obrigatório fazer. Estamos na reta final, e agora temos de mobilar os quartos das meninas, comprar camas, cadeiras, umas mesinhas de cabeceira. Por isso, os fundos e donativos que pudermos arranjar este Natal serão canalizados para a aquisição de mobiliário dos quartos, do refeitório, da sala de estar. O evento serve para isso”, indica a irmã Ana Maria.

As 32 “meninas” (como lhes chama) que a instituição acolhe “nunca saem de cá. Passam aqui as férias, o Natal, a Páscoa, passam aqui a vida. Esta é a casa delas e é a família delas”, sublinha.

O Convento também já retomou as visitas, que são outra fonte de receitas. “Está aberto desde 1 de setembro, e pode ser visitado todos os dias a partir das 13h até às 17h”, acrescenta a irmã Ana Maria que deixa o convite: “venham porque vão passar uma tarde bem passada. E ofereçam presentes solidários no Natal. Ajudem uma causa, seja esta ou outra”.

O "Chá de Natal" - que poderá incluir concertos e outras atividades - decorre aos fins de semana e feriados de dezembro, até dia 18, das 15h30 às 18h30. Pode ser marcado através do email conventodoscardaes@conventodoscardaes.com e pelo telemóvel 916 455 336. A loja com os produtos do Convento está aberta das 10h às 19h.

A partir deste sábado, 26 de novembro, inicia-se também o ciclo de concertos natalícios, que irão decorrer até ao último dia do Chá de Natal, a 18 de dezembro.

Todos os concertos se realizam na Igreja do Convento, que abre portas 30 minutos antes do início de cada atuação. A entrada é livre e não há lugares reservados, sendo distribuídos conforme a ordem de chegada.

Uma “jóia” no coração de Lisboa

Situado na rua de O Século, no Bairro Alto, perto do Príncipe Real, o Convento dos Cardaes foi fundado por D. Luísa de Távora, em 1681, para as religiosas Carmelitas Descalças.

No séc. XIX, após a extinção das ordens, ficou à guarda Associação Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos, que o transformou, numa primeira fase, em asilo de cegas (1877), uma opção “profundamente inovadora”, lê-se no site da instituição, tendo em conta que na altura as mulheres invisuais eram particularmente vulneráveis a abusos, marginalidade e miséria. Ali eram acolhidas “as mais pobres das pobres”.

A partir da segunda metade do séc. XX a Associação alargou a sua ação e passou a receber raparigas/mulheres com os mais variados problemas (físicos e/ou psíquicos).

Hoje em dia, a Associação Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos é uma Instituição Particular de Solidariedade Social que mantém o cuidado a cegas e a outras mulheres com necessidades especiais. Uma comunidade de Irmãs Dominicanas vive no Convento, cuidando, a tempo inteiro, de 32 jovens e adultas, com a ajuda de técnicas, auxiliares e voluntárias externas para as diversas atividades. A Associação é também responsável pela administração, conservação do património e animação cultural do Convento dos Cardaes.

O edifício do séc. XVII é considerado uma jóia da cidade de Lisboa. Resistiu ao terramoto de 1755, quase sem marcas, sendo por isso uma das poucas estruturas pré-pombalinas que existem. Guarda um significativo acervo de arte sacra e decorativa que as religiosas conseguiram preservar e manter intocáveis, mesmo nos anos de maior perseguição religiosa.

No interior, encontram-se “tesouros decorativos, como a Igreja com os altares em talha dourada, a nave envolta em painéis de azulejos de origem holandesa e, num plano superior, uma pintura atribuída a António Pereira Ravasco e André Gonçalves”.

O edifício ocupa uma área de cinco mil metros quadrados. Os vários espaços musealizados são únicos no país, como o Refeitório com mesas de sucupira vermelha, painéis de azulejos decorativos e pinturas do século XVII e XVIII.