Fim do bipartidarismo em Espanha? Sí!
16-12-2015 - 19:59
 • Inês Alberti, em Madrid

PP e PSOE não devem chegar aos 40% nas eleições gerais de domingo, prevê professora de Ciência Políticas na Universidade Complutense de Madrid. Há um “cansaço” com os partidos tradicionais devido, em boa parte, à “explosão de casos de corrupção”.

Ainda não se votou em Espanha, mas há um derrotado antecipado: o domínio absoluto do Partido Popular (PP) e do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). A imprensa espanhola, as redes sociais, as sondagens e as conversas do dia-a-dia não deixam dúvidas: o bipartidarismo em Espanha morreu.

Em 2011, os conservadores do PP venceram as eleições gerais em Espanha com 45% dos votos. Os socialistas ficaram em segundo lugar, com 29%, e o partido em terceiro lugar teve apenas 7% dos votos. Em 2008, o cenário repetiu-se, mas o PSOE saiu o vencedor e o mesmo aconteceu em 2006.

Mas tudo mudou. Os partidos que sempre lutaram frente-a-frente pelo poder em Madrid têm agora novos (e fortes) adversários: o Podemos, de esquerda, e o Ciudadanos, que não se identifica como sendo de direita ou de esquerda.

De acordo com as últimas sondagens, apesar de o PP ter uma vantagem mínima sobre os outros partidos, nenhum dos quatro vai conseguir atingir a maioria.

“A soma dos votos para os que têm sido os dois partidos tradicionais até agora não vai chegar nem a 40%, o que significa, evidentemente, o fim do bipartidarismo”, afirma à Renascença Mercedes Carrera, investigadora e professora de Ciência Políticas na Universidade Complutense de Madrid.

“Hoje em dia, temos pelo menos quatro partidos importantes”, acrescenta.

“Cansaço”

A investigadora aponta a crise económica e a deterioração institucional como principais ingredientes para a queda da popularidade dos “velhos partidos” e para o crescimento dos novos fenómenos políticos.

“As instituições têm sido postas em questão, utilizadas politicamente. [O fim do bipartidarismo] Também está relacionado com uma mobilização social, um interesse político, que era impensável existir até há relativamente pouco tempo”, explica.

“Há um certo cansaço com o que normalmente chamamos partidos tradicionais, o que também tem a ver com a explosão de casos de corrupção”, acrescenta.

“Organizem-se”. E assim foi

Para Mercedes Carrera, o aparecimento de novas forças políticas tem como semente os movimentos que começaram a 15 de Maio de 2011. Nessa altura, um grupo de cidadãos, os “Indignados”, acampou nas Puertas del Sol, em Madrid, para contestar as medidas de austeridade do Governo.

A professora de Ciência Políticas explica que tanto o Podemos, que tem raízes claras neste movimento, e o Ciudadanos, que ganhou força poucos anos depois, adoptaram neste último ano “uma posição mais moderada”, agradando a um eleitorado mais vasto, aproximando-se do centro político.

Outra das peculiaridades que fazem destas eleições um marco histórico na política espanhola é o comportamento dos jovens. Muitos perderam a confiança no PP (apesar de o partido ter tentado rejuvenescer, com Soraya Saenz de Santamaría) e vêem em Pedro Sánchez, do PSOE, “uma cara jovem, mas um partido do passado”.

“Uma das coisas que os mais conservadores diziam aos que se mobilizaram no 15 de Maio era: “Se querem fazer política, organizem-se e apresentam-se nas eleições’. E foi o que fizeram.”