“Parque das Nações é um nome desastroso”
17-05-2018 - 07:00
 • Dina Soares , Joana Bourgard

Luis Vassalo Rosa foi o coordenador do plano de urbanização da Expo 98. Do que mais se orgulha é da nova ligação criada entre os lisboetas e o espaço público. Outros aspetos desagradam-lhe bastante. Antes da Expo, confessa, adorava fazer passeios noturnos naqueles terrenos. A Renascença recorda a Expo com 20 histórias da maior intervenção feita na cidade de Lisboa desde o terramoto de 1755.

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Depois de concluir uma obra, o arquiteto Luís Vassalo Rosa não costuma olhar para trás. Por isso mesmo, o coordenador do plano de urbanização da Expo 98 encara hoje a sua obra com grande distanciamento. Guarda como pontos mais positivos daquela experiência a vivacidade da zona e a forma como a transformação daquele espaço influenciou o relacionamento entre os lisboetas e o espaço público.

“Penso que esse foi mesmo o impacto mais importante da Expo, o tratamento do espaço público. É muito importante porque há que defender o espaço público que é o espaço da democracia e da cidadania”, afirma Vassalo Rosa.

Em contrapartida, o arquiteto lamenta que a plena ligação entre a antiga Expo e o resto da cidade continue por concluir, impedindo a miscigenação social que seria desejável. “A unidade da freguesia, ultrapassando a linha do caminho de ferro, era um fator decisivo para aquele espaço deixar de ser a ilha que foi sempre acusado de ser. Transportar a freguesia para os dois lados era um sinal evidente da sua integração na cidade.”

“Antes da Expo aquilo era um lugar paradisíaco”

Desagrada-lhe também a designação encontrada para o novo bairro. “O tema eram os oceanos, razão pela qual eu acho que devia ser Bairro dos Oceanos ou então deixassem lá estar Expo 98. Nunca Parque das Nações, que é um desastre.”

O terceiro desgosto tem a ver com a utilização dada à Torre Vasco da Gama. Vassalo Rosa não esquece que o objetivo inicial da obra era ser um monumento evocativo dos 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia. Na sua opinião, "a construção de um hotel desrespeita a memória”.

Hoje em dia, o coordenador do plano de urbanização da Expo 98 pouco visita a zona, mas antes das obras, o arquiteto costumava dar ali grandes passeios noturnos. “Ia passear para lá à noite porque aquilo era a cidade fantasma. Aquela torre com a chama, tudo aquilo era um lugar paradisíaco.”