Marcha pela justiça climática junta mil pessoas em Lisboa. “Vim lutar pelo futuro da minha filha”
07-11-2021 - 21:20
 • Joana Gonçalves

As líderes do PAN e Bloco de Esquerda marcaram presença no protesto contra a inação climática, que decorreu na véspera do arranque da segunda semana da COP 26, a conferência das Nações Unidas sobre o clima.

De punho ao alto e com um pequeno coração de cartolina ao peito, Maya junta-se ao coro de protesto que grita palavras de ordem contra a inação climática. Ao lado, o pai dita o ritmo da marcha, entre centenas de pessoas que percorrem a Avenida Almirantes Reis, numa manifestação pela justiça climática.

“Estamos a lutar pela ação climática, que é urgente, necessária e o único caminho possível. Exigimos ação dos Governos”, explica Gustavo Garcia.

O homem de 36 anos, natural de Porto Rico, vive há dois anos em Portugal, em Coimbra, e viajou até à capital de propósito para marcar presença nesta marcha. “Vim lutar pelo futuro da minha filha Maya, pelo futuro de toda a humanidade e pela justiça social, que é um elemento básico de qualquer sociedade democrática”, conta à Renascença.

A criança que o acompanha interrompe orgulhosamente o pai e mostra o cartaz que carrega. “Make love, not CO2”, lê-se em letras pretas sobre fundo vermelho. Para a família esta é também uma “luta pela sobrevivência”, defende Gustavo.

"Porto Rico está no Caribe, é uma das regiões mais afetadas pela crise climática. Muitas ilhas e terrenos do Porto Rico vão desaparecer. É a nossa existência que também está em jogo. Não é suficiente o blablabla”, reitera.

Uns metros à frente, Rita Silva lidera um grupo de jovens do Bloco de Esquerda. De megafone em riste, provoca: “Não há que?”. “Não há planeta B”, respondem as dezenas que a seguem.

“Juntei-me à marcha da justiça climática porque é umas das grandes lutas da minha geração. Temos que unir a nossa voz para que isto se traduza em medidas concretas: mais ferrovia, menos aeroportos, escolhas energéticas mais sustentáveis”, esclarece a jovem de 23 anos, natural do Porto.

“É preciso deixar de pôr o lucro à frente da vida das pessoas e do ambiente. Enquanto membros da União Europeia temos uma responsabilidade ainda maior, na implementação de medidas e em pressionar os outros Estados membros a fazer o mesmo. Acho que a nossa responsabilidade é coletiva”, acrescenta, em referência ao papel de Portugal na luta global contra a crise climática.

Para Rita Silva, a geração de que faz parte é aquela que mais vai sofrer com a atual inação dos líderes mundiais e “é por isso que sentimos esta urgência de sair às ruas”.

“Somos a geração que menos contribuiu para os impactos que sentimos atualmente, mas vamos ser a geração que mais os vais sentir, porque vamos viver, com sorte, mais 50 ou 60 anos, a sofrer essas consequências”, defende.

Junto a Rita está a coordenadora do Bloco de Esquerda. Para Catarina Martins, a 26.º conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP 26), que decorre em Glasgow, tem sido “uma enorme decepção".

"Assistimos a um desfilar de boas intenções, mas nenhuma medida concreta para a descarbonização da economia, nenhuma medida concreta para travar o aquecimento global”, afirmou a bloquista.

Já a deputada do PAN Inês de Sousa Real criticou a ausência do primeiro-ministro na manifestação e pediu metas "mais ambiciosas".

Gonçalo Portela, que esteve presente no protesto para “reivindicar uma luta séria contras as alterações climáticas”, partilha a mesma visão e diz-se pouco confiante no resultado da reunião entre líderes mundiais e especialistas, que termina a 12 de novembro.

“Acho que por um lado é suficiente o progresso no carvão, mas por outro lado existem muitos outros temas que precisam de ser abordados de uma maneira mais séria”, alertou.

Para Catarina, 26 anos, trata-se de procurar soluções para “o grande problema das próximas décadas”. “Sem conseguirmos resolvê-lo tudo o resto não interessará para absolutamente nada”, reitera.

“Vim aqui hoje porque estou cansada da frustração constante que sinto com a falta de ação global dos Governos, empresas e pessoas. Venho aqui pedir às pessoas presentes na COP26 que, por favor, levem as coisas a sério e parem de dizer coisas que não vão cumprir”, apela a jovem.

A marcha pela justiça climática juntou mais de mil pessoas em Lisboa, num movimento que somou cerca 500 mil por todo o mundo, no dia anterior, de acordo com a organização. Para além do combate contra as alterações climáticas, manifestam-se contra o racismo e a favor da igualdade de género.