​Discotecas reabrem entre cautelas, receios e muita vontade de dançar
30-09-2021 - 16:05
 • Sofia Freitas Moreira , com redação

Há quem reabra no primeiro minuto do dia 1 de outubro, outros ainda não estão em condições de voltar à atividade. Responsáveis por bares e discotecas questionam-se sobre que tipo de clientes sobraram depois de ano e meio em que outros hábitos foram criados.

Mais de um ano e meio depois, chegou a vez de bares e discotecas reabrirem em pleno funcionamento, ou seja, com pistas de dança abertas. A partir das 00h00 desta sexta-feira, aqueles esabelecimentos podem voltar a operar normalmente, com algumas regras de segurança devido à pandemia.

O momento é tal forma esperado que há quem reabra as portas no primeiro minuto da entrada em vigor da nova fase de desconfinamento. É o caso do Village Underground, em Lisboa.

“Estamos com uma grande expetativa. Quem vai tocar é o próprio Gustavo Rodrigues, que é quem toma conta da sala e também de todo o Village Underground. Ele próprio disse: ‘a primeira noite em que pudermos abrir, sou eu que vou atuar toda a noite’", conta à Renascença Mariana Duarte, uma das fundadoras do espaço.

O Village Underground é conhecido por funcionar em contentores e em autocarros antigos. Mariana Duarte explica que, como têm um espaço exterior puderam “ter DJ's e concertos durante alguns meses, nestes últimos 18 meses”, mas nunca uma pista de dança. “Estávamos muito ansiosos para que este dia chegasse”, confessa.

Mariana Duarte garante que a equipa “está pronta para começar a trabalhar”, embora tenham sentido dificuldades em reunir os mesmos funcionários, por exemplo, na área da limpeza, segurança ou bar.

“Muitos trocaram de profissão, outros não estão já preparados para trabalhar. Está a ser um pouco um desafio em termos de recursos humanos. Mas quanto à nossa vontade de fazer esta primeira noite, essa é enorme e temos uma expetativa de que vai correr tudo muito bem”, diz.

Que clientes sobraram?

Mas se o Village Underground reabre, muitos espaços de diversão noturna não o vão fazer.

“Em muitos casos, os empresários não tiveram tempo suficiente para se prepararem para esta reabertura”, diz José Gouveia, da Associação Nacional de Discotecas.

“Estas casas, ao final de 19 meses praticamente encerradas, passaram por uma degradação natural, e era necessária uma manutenção forte”, acrescentado que “ninguém mexeu em nada, sem ter uma garantia do Governo de que realmente as coisas iriam para a frente, porque o Governo também entrou aqui nalgum descrédito”.

José Gouveia diz ainda que o sentimento geral é de muita cautela. “Existe uma consciência transversal a todos os operadores, de que não podem, nem devem encher as suas casas. Temos que transmitir o máximo de confiança e de segurança aos utentes”, diz. Até porque, acrescenta, não se sabe “que clientes sobraram”.

“Depois destes 19 meses onde se criaram novos hábitos, que pessoas irão aparecer”, questiona. “E será que aparecem só nos primeiros fins de semana, ou no primeiro fim de semana, e depois as coisas acabam por acalmar?”.

Mariana Duarte levanta também outra questão: “sabemos que a maior parte está muito desejosa de vir para a pista de dança, mas falando com outras pessoas de fora apercebemo-nos que há também uma certa ansiedade e receio de voltar a estar num espaço fechado”.

Estas são dúvidas e pontos de interrogação a que só o tempo dará uma resposta.

Atrasos do Governo complicaram o que já era difícil

Olhando para o tempo que ficou para trás, sobram críticas à atuação do Governo.

“As discotecas, ao ar livre, podiam ter aproveitado o verão e tinham-se salvo muitas empresas com esse gesto”, diz João Gouveia, lembrando que “os 85% atingidos agora nada correspondem ao nível dos nossos clientes”.

Já Mariana Duarte lamenta a demora de ver entrar no banco o dinheiro do apoio fornecido pelo Estado.

“Uma coisa é garantir o apoio, outra coisa é pagar o apoio e o apoio estar na nossa conta da empresa”, diz. “O facto de vir [o dinheiro] tão atrasado complica muito, não só em termos de tesouraria e de pagamentos, mas também a nível emocional e de psicológico, de desgaste de quem está à frente destas empresas”, detalha Mariana Duarte.

Mariana Duarte lembra que esta pandemia trouxe morte, doença e deterioração das condições de vida de muitos, mas, apesar de tudo, identifica uma coisa positiva: “no meio disto tudo, houve um sentimento de fraternidade e de associativismo entre várias empresas ligadas à cultura da noite”, um sentimento que, diz, “vai ter vantagens no futuro”.

“Pela primeira vez conseguimo-nos juntar, ter uma voz comum. Estamos mais fortes do que nunca”, remata.