Os elogios do diário “Financial Times” ao primeiro-ministro António Costa, num editorial publicado esta segunda-feira, que apresenta Portugal como uma “esperança” económica para a Europa, têm um “sabor amargo”, na análise do economista João Duque.
O professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG) e ex-conselheiro de Pedro Passos Coelho, antecessor de Costa, sublinha, em declarações à Renascença, que os resultados só são possíveis graças à manutenção da austeridade.
“O elogio foi feito no sentido de que este Governo fez uma série de coisas e uma delas, muito bem feita, foi ter continuado numa linha de austeridade”, observa o economista, o que se concretizou através de um “aumento da carga fiscal e redução do investimento público”. “Tivemos dois períodos de austeridade: um de austeridade chamada austeridade e outro de austeridade não lhe chamando austeridade”, frisou.
O editorial, que tem como título “Perspectivas brilhantes para Portugal levam alguma esperança à Europa”, omite algo que João Duque considera essencial: “Temos taxas de juro como nunca foram vistas em Portugal, durante tanto tempo. Isto é um benefício extraordinário, se tivéssemos taxas de juro a 3% ou 4% o encargo com a nossa dívida era insuportável”.
No entanto, o professor do ISEG elogia “a mão de ferro do ministro das Finanças”, que “acabou por pôr Portugal como exemplo de cumprimento das obrigações, mesmo tendo uma dívida pública tão elevada”. “Nós, portugueses, sabemos que estamos a contribuir mais para um orçamento que, em termos de investimento, nos tem dado menos. A qualidade de serviço, em muitos casos, também não melhorou”, releva.
No "Financial Times", António Costa é descrito como um político “hábil”, a caminho da vitória nas legislativas de outubro graças aos bons indicadores económicos: salários aos níveis anteriores à crise, défice orçamental próximo do zero e uma taxa de desemprego de 6,7%. No entanto, o texto também elenca as principais dificuldades para um próximo executivo, nomeadamente a elevada dívida pública, cuja meta para o final do ano está estimada nos 118,6%.
“É evidente que tivemos algum escape e alguma redução ou alteração da política, nomeadamente fiscal, e isso deu uma ilusão de rendimento e de não austeridade. O facto de não termos tantos desempregados acontece porque muitos portugueses encontraram emprego fora. Se tivéssemos os 400 ou 500 mil que agora não agora não estão cá, a taxa não era de 6,7%”, salienta João Duque.