O Governo tem-se congratulado por ter as contas certas, posição que a esquerda costuma criticar. Dizem algumas vozes de esquerda que não faz sentido o Governo preocupar-se mais em agradar aos mercados do que em melhorar a vida dos portugueses.
É justo, porém, dizer que para um país, como Portugal, que tem e terá ainda durante muitos anos uma elevada dívida pública, manter as contas certas é um passo decisivo para evitar um quase colapso financeiro, como aquele que em 2011 trouxe a “troika”. Muita gente de esquerda detesta os mercados e odeia os investidores financeiros; mas essa paixão anticapitalista não deve ignorar que Portugal precisa dos mercados e dos investidores para se financiar.
É por ter contas certas que os juros da dívida portuguesa a dez anos, se bem que tenham subido um pouco, se mantém abaixo dos juros pagos por Espanha, Grécia, Itália e Reino Unido, por exemplo. Como quem acaba por pagar esses juros são os contribuintes, imagine-se como ficariam as bolsas dos portugueses se os mercados desconfiassem da capacidade de Portugal honrar os seus empréstimos.
Mas o Governo deveria tomar consciência de que “contas certas”, a sério, também envolvem um adequado estímulo ao crescimento económico e à justiça social. Ora, em 2022 aquilo que o Estado português gastou em investimento ficou mil milhões de euros abaixo das previsões orçamentais.
As célebres cativações e outras manobras impediram o Estado de apoiar mais o crescimento da economia e de ser menos contido nos apoios aos mais prejudicados pela inflação. É por isso que não entusiasma que o Orçamento para 2023 preveja um aumento de 37% no investimento público, quase metade financiado com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência.