​Proibir jogos em dia de eleições “é o caminho errado” no combate à abstenção
14-09-2017 - 09:57

Especialista em sondagens diz que mais importante seria "tornar o voto conveniente". É a terceira vez que há jogos de futebol a coincidir com dias de escrutínio.

O politólogo e especialista em sondagens Pedro Magalhães considera que a proibição de espectáculos desportivos, onde se incluem os jogos de futebol, em dia de eleições “é o caminho errado”.

De acordo com o jornal “Diário de Notícias”, o Governo prepara-se para avançar com legislação necessária para impedir que se repita o que se passou nas duas últimas eleições e vai voltar a acontecer nas autárquicas agendadas para 1 de Outubro, ocasiões para as quais foram marcados vários jogos de futebol.

Ouvido pela Renascença, Pedro Magalhães garante que não há nenhuma prova de que a realização deste tipo de eventos afecte a afluência às urnas.

“Parece-me que esta medida está a lidar com um problema que ninguém sabe exactamente se existe. Não sei se alguém sabe se a abstenção em Portugal é causada ou influenciada pela realização de espectáculos desportivos”, garante.

O especialista garante que o caminho passa por facilitar o voto. “Aquilo que nós sabemos, pelo contrário, é que países que incentivam ou que possibilitam de forma clara o voto postal ou o voto antecipado ou que facilitam o recenseamento dos cidadãos no estrangeiro, nesses países sim, a abstenção é menor”, explica.

Nestas declarações critica a inacção de “vários governos portugueses” em tornar “o voto conveniente”.

“Proibir é fácil, o que é difícil é algo que exige algum investimento e alguma organização é tornar o voto mais conveniente para as pessoas, mas isso não parece ser prioridade, o que é prioridade é proibir jogos de futebol”, remata.

Liga não cede

O Governo contactou a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) a propor a alteração das datas dos jogos marcados para o dia das eleições: Braga-Estoril (16h00), Sporting-FC Porto (18h00), Marítimo-Benfica (20h15) e Belenenses-V. Guimarães (20.30).

No entanto, a Liga não cedeu, justificando se ao executivo com as explicações que já tinha dado publicamente. Perante a "participação das equipas portuguesas em competição europeia na semana anterior, à necessidade de acautelamento do intervalo regulamentar de descanso entre jogos de pelo menos 72 horas, bem como a obrigatoriedade de libertação de jogadores para as selecções nacionais, no dia 2 de Outubro", a Liga argumentou que não podia marcar aqueles jogos noutro dia. A Liga salientou que, dentro do que lhes foi possível, alterou a data de outros jogos da 8.ª jornada da I Liga e todos da 9.ª jornada da II Liga, por causa do acto eleitoral.

Perante estas simultaneidades, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) garantiu estar de mãos atadas, por não haver legislação que proíba expressamente este tipo de eventos.