Parlamento recorda Sampaio na presença de família e amigos
15-09-2021 - 16:46
 • Lusa

O ex-Presidente foi homenageado na Assembleia da República e recordado como "um enorme ser humano".

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, considera que o antigo Presidente da República Jorge Sampaio, que morreu na sexta-feira, vai continuar a ser um exemplo e transmitiu à família a gratidão dos portugueses.

Ferro Rodrigues abriu esta quarta-feira a sessão evocativa do ex-Presidente, na primeira sessão plenária do novo ano parlamentar, "dias depois de testemunhar com muita tristeza o desaparecimento de Jorge Sampaio".

"Chegados a esta sessão evocativa, a derradeira homenagem que a Assembleia da República presta ao antigo chefe de Estado, ao antigo deputado, ao político e ao cidadão, é com sentido de dever que transmito à sua família e amigos, em meu nome e em nome da Assembleia da República, a gratidão e todas as portuguesas e de todos portugueses que aqui representamos pelo muito que nos deu Jorge Sampaio", afirmou.

À esposa, Maria José Ritta, ao filho, André Sampaio, e aos amigos, que se encontravam a assistir nas galerias do Parlamento, incluindo figuras públicas como Luís Marques Mendes, José Vera Jardim, João Cravinho, e Vasco Lourenço, o presidente da Assembleia transmitiu também o "mais sentido pesar" e recordou Jorge Sampaio "já com saudade".

"Amigo de muitos de nós e uma referência para as portuguesas e para os portugueses pelo exemplo que foi e continuará a ser na defesa da democracia e dos valores da liberdade, da tolerância e respeito pelo outro", salientou.

O presidente da Assembleia da República destacou também que a sua vida foi de "serviço público e de serviço à causa pública".

"O muito que foi dito nos últimos dias não é ainda assim suficiente para exprimir dor e a emoção com que vimos partir um amigo, com que vi partir um companheiro na luta pela liberdade e pela democracia, com quem tanto aprendi nas últimas as décadas na política e fora dela", recordou.

Ferro destacou também o "respeito pelo outro, pela diversidade, pela pluralidade de ideias e convicções, na importância do diálogo, do consenso, da construção de pontes como forma de ultrapassar as muitas dificuldades com que o país ainda se depara".

"No ensinamento ao mesmo tempo tão simples e tão cheio de significado de que não há portugueses dispensáveis", acrescentou, recordando uma das suas frases mais emblemáticas.


"Enorme ser humano"

Depois desta intervenção introdutória, Ferro Rodrigues leu o voto de pesar do parlamento pela morte de Jorge Sampaio, que se refere a ele como um "enorme ser humano".

"A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, manifesta o seu profundo pesar pelo falecimento de Jorge Sampaio, figura fundamental do Portugal contemporâneo, prestando-lhe justa homenagem e transmitindo à sua família, muito em especial à sua mulher, Maria José Ritta, e filhos, Vera e André, aos amigos e ao Partido Socialista as mais sentidas condolências", lê-se.

Na iniciativa, o parlamento considera que, "pelos valores que defendia, pela forma íntegra e empenhada como exerceu as funções para que foi eleito ou designado, Jorge Sampaio representou tudo o que de melhor e de mais exigente há na política".

"Ao assinalar a perda deste enorme ser humano, que foi um dos melhores servidores da causa pública da sua geração, é justo reconhecer a gratidão que lhe é devida. Obrigado Jorge Sampaio", assinalam os deputados.

"Inquietude serena, mas determinada"

Depois da leitura do documento, que foi aprovado por unanimidade, seguiram-se as intervenções das diferentes bancadas e deputados, incluindo Ana Catarina Mendes, que realçou, entre as características de Jorge Sampaio, "a sua inquietude serena, mas determinada, que o fez um homem extraordinário no plano cívico e político", assim como a serenidade "que lhe dava previsão na análise, prudência nos juízos, capacidade de fazer alianças, de obter compromissos, de construir consensos, de lançar pontes".

"A sua vida foi uma militância ativa pela liberdade, pela democracia e pelos direitos humanos. Pela sua atitude ética, pela sua exigência intelectual, pela sua seriedade política, pela sua fidelidade a causas, ideais e princípios, Jorge Sampaio foi uma personalidade ímpar, exemplar e inspiradora no Portugal democrático, moderno e cosmopolita que fomos construindo depois da revolução do 25 de Abril", sustentou Ana Catarina Mendes.

Na perspetiva da líder da bancada do PS, o antigo chefe de Estado e líder dos socialistas entre 1989 e 1992, "no confronto democrático, assumia sempre as qualidades e virtudes do seu estilo: A elegância, a modéstia, a cordialidade e a elevação".

"O seu exemplo dignificou a política, tornando-a mais profunda e mais consequente. Inspirou várias gerações de jovens, em que me incluo, e que me levou a filiar no PS", disse.

Além dos deputados, marcaram também presença o primeiro-ministro, António Costa, e os ministros de Estado e das Finanças, João Leão, de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira, de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e do ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.

Jorge Sampaio, antigo secretário-geral do PS (1989/1992) e Presidente da República (1996/2006), morreu na sexta-feira, aos 81 anos, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, Oeiras, onde estava internado desde 27 de agosto, na sequência de dificuldades respiratórias.

O funeral, com honras de Estado, realizou-se no domingo, antecedido por uma homenagem nacional no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.