Não é todos os dias que nos disponibilizam um carro de sonho para testar durante um par de dias. E se este vier com um motor de 6 litros, um roncar magnífico dos seus 635 cavalos montados no motor W12, o céu fica muito mais perto.
Exterior
As enormes jantes não conseguem esconder as gigantescas maxilas que agarram os 4 discos, também eles de dimensões generosas. O Bentley Continental GTC (C de Convertible) Não passa despercebido em lado nenhum.
A capota retrátil que faz o trabalho em poucos segundos (até em andamento a baixa velocidade) encaixa na perfeição na carroçaria. Não há folgas, nem “passagens de ar” mesmo quando o andamento é animado.
É um carro baixo, mas não tanto que raspe nas lombas mais agressivas. A lateral apresenta as rodas traseiras algo salientes face ao conjunto, conferindo-lhe ao mesmo tempo um ar retro e dinâmico.
Na frente, a grelha prateada não deixa margem para dúvidas que se trata de um Bentley. E se dúvidas houvesse, as óticas separadas, dois faróis - um maior e outro mais pequeno de cada lado - reforçam a imagem de marca.
Interior
É aqui que Bentley revela o seu luxo. Os bancos em pele, perfurados, o volante em pele em diversos tons, perfurado e aquecido, o tablier e as quartelas das portas igualmente revestidas a pele e bordadas aos quadrados, tal como os ocasionais bancos traseiros, tudo transpira bom gosto e qualidade.
A capota é retratil, mas quem a vê por dentro não adivinha. Forrada com um tecido aveludado, é sólida. E quando chove a sério, garanto que se ouve mais o barulho das gotas a baterem no vidro, que na capota. Mas talvez fosse da velocidade…
Se a isto misturarmos aplicações em madeira aqui e ali, temos “a caixa” perfeita para quem tem a sorte de conduzir, e de se sentar ao lado.
Digo, a sorte de conduzir, porque é aqui que se desfruta em pleno deste carro. O ecrã central - de boas dimensões e completo ao pormenor - roda três vezes. Quando se liga a ignição, o painel de madeira que completa o tablier roda e no seu lugar surge o ecrã propriamente dito. Mas se não precisa dele nem para o GPS, nem para saber o estado do carro, as configurações, etc, pode sempre por fazê-lo girar mais uma vez. E aí surgem três indicadores analógicos: Termómetro com a temperatura exterior, bússola e cronómetro. E para quê um cronómetro? Porque sim, e também… porque sim.
Motor
Porque sim, porque este é um magnifico automóvel, que conjuga o luxo, a diversão de capota aberta, com o espírito estradista. Este é um “papa quilómetros”, sem queixas para quem como nós, numa tarde galgámos 700 quilómetros praticamente de uma assentada.
É verdade que consome… mas se a marca aponta para uma média a rondar os 12 litros e meio aos cem, a verdade é que o herdámos com uma média de 15. Contudo, foi possível fazer 10,7 litros aos cem em parte substancial do percurso.
Na outra parte, perdemos-lhe o rasto, porque descobrimos no recheado túnel central de botões de climatização, o Santo Graal dos puristas. Foi quando passámos do agradável modo Bentley, para o Personalizado, e deste para Confortável. E por fim para o modo Sport. E aqui, o coração falou muito mais alto.
Neste modo, o roncar do motor 6.0 TSI bastava para que a experiência ficasse por aqui. Que coisa bonita.
Melhor, foi acelerar do zero aos cem em 3.8 segundos. E tentar perceber se os tais 333 quilómetros por hora de velocidade máxima, eram ou não um daqueles mitos urbanos. Não tivemos estrada para isso, e ficamo-nos por aqui para não ofender ninguém, até porque os pontos da carta são um bem precioso.
O que podemos dizer é que este é um verdadeiro monstro que se espicaça com vontade, e que se controla com facilidade. O condutor não é surpreendido pela negativa, a direção é precisa, os pneus comportam-se muito bem em curva e suportam este tanque de cerca de duas toneladas e meia, e todas maldades que o condutor lhe queira infligir.
Um único ponto negativo: Foi preciso devolver o Bentley Continental GTC ao seu legítimo dono. Entretanto, pergunto eu: Um rim vale 350 mil euros? É que eu tenho dois e acho que posso dispensar um.