José Manuel Fernandes: "Os comunicadores têm de estar onde as pessoas estão"
28-09-2017 - 18:00

"Publisher" do Observador sublinha que tal como a Igreja tem sabido, ao longo dos tempos, usar os vários órgãos de comunicação, não pode passar ao lado das redes sociais.

“Quem quer comunicar tem de estar onde as pessoas estão e as pessoas estão nas redes sociais”, defende José Manuel Fernandes, em declarações à Renascença à margem das jornadas da Comunicação Social.

O "publisher" do jornal “Observador” esteve esta quinta-feira no auditório da Renascença, para participar nas jornadas, e falou sobre a necessidade, mas também os perigos, de estar nas redes sociais.

Para o jornalista, numa altura em que mais de metade dos portugueses tem conta no Facebook, existe o perigo de as pessoas se fecharem em bolhas informativas.

“Muitas vezes essas redes fecham-se sobre si mesmas, no sentido em que eu fico fechado no meu grupo de amigos, numa bolha, das pessoas que pensam como eu, só leio os artigos que dizem aquilo que já penso e de que gosto e ponho lá ‘like’ e a certa altura eu não tenho contraditório e não estou sequer a ter conhecimento do mesmo tipo de informação que tem um cidadão médio que assista a um órgão de informação directamente e não apenas a uma notícia solta, ou que veja um serviço noticioso. Aqui eu posso ter apenas um quadradinho da realidade e achar que essa é a realidade e isso é fechar-me em microgrupos, pequenas tribos”, diz.

“O grande problema disto é que a democracia para viver precisa da seiva da informação e de ter uma espécie de terreno comum em que as pessoas têm um grau de conhecimento da realidade semelhante, trocam ideias, se de repente não há troca de ideias e há só redundância é uma sociedade que não fala com ela própria, não se entende a ela própria, cada grupo fala só para si.”

As jornadas da Comunicação Social são dirigidas, sobretudo, a jornalistas e a profissionais de comunicação de instituições ligadas à Igreja. É a estas pessoas que cabe combater o fenómeno das bolhas informativas.

“O nosso papel hoje em dia, no tempo da internet, já não é ser tanto a pessoa que traz a notícia, é mais aquela pessoa que explica, enquadra e valida a notícia. A parte da validação é muito importante porque nestes grupos é muito fácil difundirem-se notícias falsas. É necessário que o jornalismo detecte esses fenómenos e diga não, isto não é verdade, ou sim, isto corresponde à realidade, e ajudar as pessoas a pensar e a saírem desses espaços enclausurados. Mas isso implica que os jornalistas também saiam às vezes dos seus espaços enclausurados em que só falam com as suas fontes e os seus amigos, que por regra também são jornalistas ou são fontes", afirma.

Esta é uma nova realidade que não pode passar ao lado da Igreja, considera. “A mesma forma que a Igreja ao longo do tempo soube usar os vários órgãos de informação, e usar os mesmos canais de comunicação, fossem as estradas medievais, fossem as bibliotecas que preservou, os jornais que criou os as rádios que ainda tem, isto é o novo meio de hoje.”

Mensagem cristã "atraente"

Para o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, a presença da Igreja Católica nas redes sociais é uma “obrigação”.

Na abertura das Jornadas Nacionais de Comunicações Sociais, D. João Lavrador, bispo de Angra, falou nas exigências de “criatividade e fidelidade” para tornar a mensagem cristã “atraente”. É preciso “encontrar sempre renovadas energias”, colocando maior acento na “partilha” do que na “difusão”, disse.

D. João Lavrador defendeu que o trabalho da comunicação social tem quatro exigências: a “promoção da dignidade”, a “edificação do bem comum”, a “exigência da verdade” e a “integração comunitária”