Covid-19. DGS reconhece que só 13% dos casos têm origem conhecida
14-01-2021 - 18:44
 • Pedro Mesquita

Direção-Geral da Saúde justifica este número com atrasos na realização de inquéritos epidemiológicos, por causa da pressão que a pandemia tem colocado sobre os serviços.

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A Direcção-Geral da Saúde (DGS) reconhece que, nesta fase, é apenas conhecida a origem epidemiológica de 13% dos casos de Covid-19.

Mas sublinha que tal não significa que se tenha perdido o rasto aos 87% que falta identificar. A razão prende-se com os inquéritos epidemiológicos que estão atrasados, por culpa da pressão da pandemia.

Em declarações esta tarde à Renascença, Pedro Pinto Leite, chefe da Divisão Epidemiológica e de Estatística da DGS, sublinha que nunca se fizeram tantos inquéritos e que as equipas de rastreio foram muito reforçadas.

Mas também reconhece que os recursos não são infinitos.


Como se justifica que 87% dos casos de Covid-19 sejam de origem desconhecida?

Esses 87% incluem os casos nos quais não foi claramente identificada uma ligação epidemiológica ou essa ligação epidemiológica está omissa.

Sabemos o contrário, que 13% têm uma ligação epidemiológica conhecida.

Ou seja, só se sabe a origem epidemiológica de 13%...

... de 13% de todos os casos.

Isso significa um descontrolo, neste momento...

... não necessariamente, não significa um descontrolo. Tivemos, desde o início do ano, um aumento de novos casos em todos os grupos etários e regiões, o que, naturalmente, resultou numa maior pressão nos hospitais, mas também nos Cuidados de Saúde Primários e nos serviços de Saúde Pública e são estes serviços, os de saúde pública, os responsáveis pela elaboração dos inquéritos epidemiológicos que vão ajudar ao controlo da pandemia da Covid-19.

Sabemos que estes serviços de Saúde Pública foram reforçados para darem apoio às autoridades de saúde na elaboração destes inquéritos epidemiológicos, também sabemos que estas equipas são elásticas, mas não são infinitas.

Ontem falava com o infecciologista Jaime Nina, que dizia que, desde sempre, os especialistas da área alertavam as autoridades de saúde em Portugal que era preciso reforçar, e muito, o pessoal que faz os rastreios para aumentar os rastreios. Mas, pelo que me foi dito, esse aumento ficou muito aquém do desejado. Ora, se não há equipas a fazer esse rastreio, inquirindo as pessoas que estão doentes sobre os contactos que tiveram antes, como se pode travar esta pandemia?

Atualmente, temos um volume de inquéritos epidemiológicos que nunca tivemos...

... mas que não são suficientes porque, como me disse, as equipas não são infinitas...

... as equipas têm, todos os dias, tentado cumprir com a realização dos inquéritos epidemiológicos dos casos que vão chegando e contamos, neste momento, com um maior número de novos casos desde sempre, estamos em máximos históricos, mas também nunca tivemos tantos profissionais a apoiar os serviços de Saúde Pública na realização dos inquéritos epidemiológicos.

Mesmo assim, reconhece que deveriam ser muitos mais.

Naturalmente, quantos mais profissionais tivermos, melhor. Agora, estamos a falar de equipas que estão sob uma grande pressão, que têm sempre privilegiado a intervenção sobre os registos e, habitualmente, elas sabem desse contexto que identificam, intervêm em função do mesmo. Muitas vezes, não têm é tempo para registar de forma detalhada toda a informação em relação a esse caso.

Mas quando me diz que só se sabe a origem, verdadeiramente, em 13% dos caso, é muito curto.

Não diria que é curto. Temos é de saber como devemos interpretar esse valor. O que lhe estava a dizer é que, realmente, o facto de termos o registo de 13% não significa que só esses 13% tenham uma ligação conhecida, porque estas equipas têm privilegiado sempre a intervenção e o registo é sempre feito durante ou após essa intervenção.

Naturalmente, com a grande pressão a que estão sujeitas, as equipas têm tido pouco tempo para registar de forma detalhada cada caso.

O que vemos, provavelmente, é informação com algum atraso.

Ainda há dias um familiar foi diagnosticado com Covid-19 e esteve em cuidados intensivos. Ninguém me telefonou a perguntar se tive algum sintoma. Se houvesse rastreios, evitar-se-ia novos focos.

Não sei. O sucesso do controlo da pandemia depende, de forma muito importante, da relação dos inquéritos epidemiológicos, mas não apenas dos inquéritos epidemiológicos.

Temos de ter uma certa consciência de que todos somos, também, agentes de saúde pública.