​“Tive outras paixões, mas só esta me fez querer entregar a minha vida”
04-12-2017 - 19:19
 • Ângela Roque

Recém-ordenados diáconos em Lisboa falam à Renascença da descoberta da vocação, de como se imaginam como padres e do exemplo que esperam ser para outros jovens.

Chamam-se Tiago, João, Daniele, Caetano, Paul e Samir. São de origens e idades diferentes, frequentam todos o sexto ano no Seminário de Cristo Rei, nos Olivais, e este domingo partilharam um dos momentos mais importantes das suas vidas: foram ordenados diáconos pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, numa cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos.

“Deitei-me no chão, e entreguei a minha vida ao Senhor. Foi um momento belo e inacreditável”, conta-nos Tiago Esteves, de 24 anos, natural das Caldas da Rainha, e que fala com entusiasmo da forma como foi descobrindo que queria ser padre.

“Foi surgindo. Houve momentos em que de uma forma mais clara o Senhor me tocou, houve outros em que isso não foi tão claro, mas o que para mim foi mais forte foi o ser chamado pelo meu prior para ser acólito”, conta.

Diz que foi isso que o aproximou de Deus. Teria 13 anos, e aos poucos foi percebendo que ser sacerdote era a sua vocação: “Tive outras paixões antes, mas nunca tive uma paixão que me fizesse querer dar tudo desta forma. Só esta me fez querer entregar a minha vida”.

Espera agora, como futuro padre, conseguir ser exemplo para outros jovens: “O maior dom que peço a Deus é que me faça fiel e poder ser testemunho. Fazer a vontade d’Ele. Se com isso atrair outras pessoas, seria uma coisa enorme!”.

Experiência diferente é a de Gaetano Catalano, também aluno nos Olivais, embora pertença ao seminário Redemptoris Mater, em Caneças. Natural de Nápoles, tem 41 anos de idade, e conta que durante muito tempo não lhe passou pela cabeça vir a ser padre. “A minha ideia de Igreja era muito negativa”, diz. Descobriu a vocação “graças a pessoas” que o acompanharam, “pessoas que Deus foi colocando” no seu “caminho”.

Vir para Portugal não foi fácil. “Foi uma experiência inicialmente difícil, porque voltei a estudar depois de 10 anos, e numa língua que não era a minha. Mas correu muito bem”. E a mudança foi radical: “a minha vida anteriormente era cheia de coisas, mas sem sentido. Agora estou aqui em Portugal há oito anos, vivo com pouca coisa, mas a minha vida tem um sentido pleno, cheio”.

Ter sido ordenado diácono foi “a confirmação da vocação”, de que espera também conseguir dar testemunho: “hoje muitos jovens não encontram um sentido para a própria vida. Eu posso dizer aos jovens que estou contente por ter escutado este chamamento”, porque embora querer ser padre não signifique “uma felicidade sem dificuldades”, encontrou na vocação sacerdotal “algo que me pode dar um sentido à vida”.

Daniele Bernacchia é outro italiano. Natural de uma cidade da costa adriática, pertence igualmente ao seminário Redemptoris Mater. Tem 33 anos e a descoberta da vocação também foi tardia. “Demorei muito tempo a dizer sim ao Senhor. Eu perguntava ‘o que Deus quer de mim?’, e ser padre era a única coisa que eu excluía na minha vida, porque sempre pensei que o Senhor me chamasse a casar”. Diz que ter sido ordenado diácono este último domingo foi “um momento absolutamente importante na minha vida”.

José Samir Benavides, de 38 anos, é natural da Colômbia, vive no seminário Redemptoris Mater, e ser padre também não fazia parte dos seus planos.

“Nunca pensei mudar tanto a minha vida”, afirma, lembrando que se formou e trabalhou em ciências tecnológicas, na área de maquinaria industrial. “Namorei, fazia uma vida normal como qualquer rapaz”. A ideia do sacerdócio apareceu pelos 27 anos. Aos 29 anos já estava em Portugal. “Estou muito contente com esta resposta”, afirma, considerando que a sua ordenação como diácono foi “muito importante, porque este chamamento se concretizou. Ontem senti que Deus me tocava através das mãos de D. Manuel Clemente”. José Samir já sabe que será ordenado padre a 1 de Julho de 2018.

Na cerimónia deste domingo, nos Jerónimos, foram ordenados diáconos mais dois seminaristas. João Quintas, de 29 anos, aluno do patriarcado de Lisboa, diz que “foi uma experiência de muita paz e alegria”.

Já Paul Binoy, da mesma idade, veio da diocese de Cochim, na índia, para estudar em Portugal. “Para mim foi um desafio”, conta. Assustava-o a língua e a cultura diferentes, e ficar com a família longe. “Sentia saudades, mas quando aqui cheguei vi que os portugueses são muito acolhedores, e houve quem me recebesse como membro da família”. Diz que ser ordenado diácono “foi um momento de graça. Estou muito agradecido a Deus que se lembrou de mim, e me deu este dom”. Espera ser ordenado padre em Agosto do próximo ano, em Cochim, mas voltará para exercer o sacerdócio em Portugal durante “uns cinco ou sete anos”.

Na semana anterior, a 26 de Novembro, tinha já sido ordenado diácono outro aluno finalista do seminário dos Olivais. Andrés Rafael Catanho é natural da Venezuela, tem também 29 anos.

“Desde que me lembro que quero ser padre”, conta-nos. Pertence aos Dehonianos, Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, e espera poder partir em missão. “Quero ser missionário, por isso é que entrei na congregação, não me vejo noutro lugar”. Angola, onde já esteve dois anos, seria um bom destino, mas está disponível para servir onde for chamado.