Serginho. ​“Não aos cortes salariais se o campeonato recomeçar”
07-04-2020 - 15:32

O guarda-redes do Varzim, um dos mais experientes jogadores dos campeonatos profissionais, só admite cenário de redução dos ordenados dos jogadores caso os campeonatos não terminem.

Os cortes salariais estão na ordem do dia. Dois clubes profissionais, Belenenses SAD e Chaves já recorreram ao "lay-off" simplificado, criado pelo Governo para mitigar os efeitos da crise provocada pela pandemia de Covid-19 na economia portuguesa.

Sobre o tema, Bola Branca ouviu Serginho. O guarda-redes do Varzim, de 37 anos, um dos mais experientes jogadores dos campeonatos profissionais, defende que "em Portugal é prematuro fazer cortes salariais". O jogador considera que só se deve equacionar a possibilidade de aplicar cortes salariais, se os campeonatos não forem retomados.

"O tema abrange muita coisa. Com os jogos à porta fechada os clubes vão perder dinheiro, mas neste momento ainda nem se sabe se os campeonatos vão acabar. Os cortes não podem apenas estar relacionados com o facto do futebol estar parado. Há coisas neste momento que têm prioridade e só depois se deve analisar o tema. Se os campeonatos não recomeçarem não faz sentido haver um campeão. Se o campeonato não recomeçar faz sentido aplicar os cortes salariais porque os clubes ficam sem receitas. Mas se os campeonatos recomeçarem e cumprirem-se o resto das jornadas, aí não fará sentido equacionar-se os cortes salariais”, defende Serginho.

Ainda há tempo para terminar os campeonatos

A UEFA já esclareceu que não tem data prevista para o final da temporada. Depois de adiar o Euro 2020 para 2021, o organismo pretende dar tempo a ligas e federações para que, dentro do quadro possível, terminem as competições.

A Liga belga parece determinada em antecipar já o fim dos campeonatos - decisão que deverá ser anunciada a 15 de abril, atribuindo o título de campeão ao Club Brugge, comandante da classificação. A UEFA criticou o plano belga e Serginho crê que em Portugal não há motivo para adotar uma medida tão extrema.

“Ainda há tempo para concluir o campeonato. O Europeu foi adiado e já não há equipas portuguesas nas provas europeias. Nesta altura, ainda não faz sentido pensar-se numa decisão igual à da Bélgica. Só faz sentido haver um campeão, equipas qualificadas para as competições da UEFA, descidas e subidas, se houver a conclusão das jornadas. Outro tipo de decisão não faz sentido até porque ainda há muito tempo para haver a conclusão das jornadas que restam nas diferentes competições”, refere nesta entrevista à Renascença.

A solução que a Liga portuguesa equaciona passa por jogos à porta fechada a partir do final de Maio, para a realização das dez jornadas que restam até ao final da época. Serginho aprova: “Jogar à porta fechada será muito provável e o mais natural. Nós, os jogadores, nunca desejamos uma medida dessa natureza porque os adeptos são o nosso maior fator de motivação. Mas o cenário dos jogos à porta fechada é o mais provável. Vai ser mau para os jogadores, mas será o mais benéfico para todos”, reforça o guarda-redes.

O número 19 na camisola…

Serginho é o número 19 do Varzim. O número da Covid-19 não passa despercebido ao jogador que, contudo, tem uma explicação para a escolha do número.

“Número 19 da camisola. O número vai marcar o mundo. Jamais pensaria que o número viria a ser um dos maiores problemas para o mundo. O número foi escolhido pela data do nascimento do meu segundo filho. Foi nesse sentido que escolhi o número 19 e na próxima época procurarei ficar com o mesmo número. O Covid-19 é um problema, mas o número 19 é a data de nascimento do meu filho e vou procurar mantê-lo na próxima época no clube que representar", diz, em jeito de confirmação que ainda não pensa na reforma.

Ainda sem data para pendurar as luvas

Serginho começou a carreira profissional em 2000 no U Lamas. Soma 20 anos como sénior. Representou U Lamas, V Guimarães, Covilhã, Portimonense, Arouca, Santa Clara Gil Vicente e Varzim. Na Póvoa desde o último Verão, o guarda-redes ainda não pensa no fim da carreira.

“Nem me lembrava que já levo vinte anos de carreira profissional. A idade vai passando e com 37 anos estou bem mais perto do fim, mas ainda não pensei em pendurar as luvas. Desde os 17 anos que sou profissional de futebol. Foi sempre o meu sonho e a minha vida. Essa questão assusta-me e evito pensar no dia do fim da carreira", revela.

O guarda-redes com mais jogos realizados na II Liga (290) sente "jovem". "Sinto-me com bastante força e pendurar as luvas ainda não me passa pela cabeça. Quando o meu corpo perder agilidade, força e reflexos, assumirei o fim. Enquanto me sentir bem fisicamente, seja com que idade for, não está na minha mente terminar a carreira de futebolista. Mas um pouco antes de chegar o dia de pendurar as luvas estou a preparar-me para o passo seguinte na minha vida. A minha grande paixão será sempre o futebol e não me imagino fora do futebol quando terminar as luvas", conclui.

Esta temporada, Serginho tem 20 jogos realizados pelo Varzim. O clube orientado por Paulo Alves é 6.º classificado da II Liga.