Pelo menos 89 mortos em manifestações em Myanmar. ONU está "chocada" com repressão militar
27-03-2021 - 16:33
 • Lusa

Os protestos organizados para o Dia das Forças Armadas culminou no dia mais sangrento desde o golpe de Estado, que já resultou em mais de 400 mortos. Entre as dezenas de vítimas este sábado, há pelo menos quatro crianças.

As autoridades em Myanmar mataram pelo menos 89 pessoas este sábado, incluindo crianças, em mais um dia de protestos pelo país contra o golpe de Estado. A Organização das Nações Unidas já reagiu ao derrame de sangue, dizendo-se "chocada" com a repressão militar contra os manifestantes pró-democracia.

Os protestos deste sábado foram convocados para o Dia das Forças Armadas. O número de mortos foi recolhido por Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos (AAPP, na sigla em inglês), já ao final do dia, que dá conta de pelo menos 89 mortes.

À AFP, a Alta Comissariada das ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasan, disse que a organização "ainda não foi capazes de confirmar esta informação de maneira independente, mas recebemos vários relatórios credíveis de muitas partes do país - pelo menos 40 locais diferentes – que relatam que unidades policiais e militares responderam a manifestações pacíficas com força letal".

Segundo a Alta Comissária, "até agora, o número de mortos aumentou para 83-91 pessoas mortas e há centenas de feridos. Há quatro relatos de crianças que foram mortas, incluindo pelo menos um bebé".

Antes, numa declaração no seu Twitter, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, referiu estar "chocada" com a violência e com as “prisões em massa”. "Recebemos relatos de dezenas de mortes, incluindo crianças, centenas de feridos em 40 localidades e prisões em massa. Essa violência agrava a ilegitimidade do golpe e a culpabilidade de seus líderes", refere.

Um gigantesco desfile militar é organizado todos os anos no Dia das Forças Armadas em frente ao chefe do exército, agora chefe da junta governante, o general Min Aung Hlaing.

A violência explodiu quando as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes. Essa "violência torna o golpe ainda mais ilegítimo e agrava a culpabilidade de seus líderes", escreveu no Twitter a porta-voz da ONU Ravina Shamdasani.

Também a embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) na Birmânia, a União Europeia e a Grã-Bretanha já tinham condenado este sábado a junta militar governante por "matar civis desarmados", num dia em que a repressão a novos protestos pró-democracia no país deixou pelo menos 91 mortos.

Este é o dia com mais mortes desde o golpe de 1 de fevereiro liderado pelo chefe do Exército e da junta militar, Min Aung Hlaing, que hoje presidiu a um desfile militar por ocasião do Dia das Forças Armadas na capital, Naipiyidó.

De acordo com a contagem do Myanmar Now, as mortes ocorreram durante manifestações em cerca de 40 cidades em regiões e estados como Rangoon, Mandalay, Sagaing, Bago, Magwe, Tanintharyi e Kachin.

O número total de mortos, que até sexta-feira era de pelo menos 328, ultrapassa agora os 400.

Apesar da repressão com gás lacrimogéneo, borracha e munições reais, milhares de birmaneses desafiaram mais uma vez os militares e a polícia, inclusive em situações que puderam ser seguidas quase ao vivo nas redes sociais.

Os soldados e a polícia cumpriram a ameaça que a televisão e a rádio estatais transmitiram na sexta-feira - a de que atirariam nas costas e na cabeça dos manifestantes. A maioria dos mortos nas manifestações desde o início de fevereiro foi atingida com tiros, muitos deles na cabeça.

Enquanto Min Aung Hlaing presidiu ao desfile em Naipyidó, para comemorar o Dia das Forças Armadas, muitos manifestantes falavam em "dia contra a ditadura militar" e "dia da desgraça". O general referiu que sua missão é "defender a democracia" e prometeu realizar eleições sem especificar uma data específica.

Desde o golpe de Estado militar que se repetem nas ruas birmanesas as manifestações de protesto, ações que têm sido marcadas pela violência policial e do exército. "Chegou novamente o momento de combater a opressão militar", declarou um dos líderes dos protestos, Ei Thinzar Maung, na rede social Facebook.

No dia 1 de fevereiro, os generais birmaneses tomaram o poder alegando fraude eleitoral nas legislativas do passado mês de novembro e contestando a vitória de Aung San Suu Kyi. Desde o golpe de Estado repetem-se as manifestações de protesto marcadas pela violência policial e do exército.

De acordo com a AAPP, mais de 2.800 pessoas, incluindo políticos, estudantes e monges, foram detidas na sequência do golpe de Estado.