O recuo da globalização e Portugal
21-05-2020 - 09:53

A atual tendência para a globalização recuar apresenta riscos sérios para a economia portuguesa. A restrita dimensão do mercado interno nacional obriga-nos a exportar.

A pandemia veio acelerar a tendência para o mundo recuar na globalização, o que já se fazia sentir com o protecionismo de Trump e as guerras comerciais com a China. O coronavírus evidenciou a necessidade de segurança de abastecimento em áreas como os medicamentos e acentuou as vantagens ecológicas da proximidade do produtor, sobretudo agrícola.

Mas a economia portuguesa poderá ser muito prejudicada se forem longe demais os obstáculos à livre circulação de pessoas e bens. O mercado interno português é de pequena dimensão, insuficiente para permitir a rendibilidade da maioria de empresas que não sejam PME (pequenas e médias empresas). Por isso é vital que essas empresas tenham acesso a mercados de maior dimensão. A exportação é indispensável.

O sonho de uma economia agrícola, mais ou menos autossuficiente e fechada ao exterior (embora o problema do trigo obrigasse a importações), foi certamente alimentado pelo regime de Salazar. Mas a necessidade de o país se industrializar rebentou com essa fantasia.

Na década de 50 do séc. XX, os empresários e gestores industriais fizeram grande pressão sobre o regime salazarista para Portugal ter acesso a mercados externos. Por isso, a contragosto do poder então vigente, Portugal conseguiu, em 1960, ser membro fundador da EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre). E uma vez regressado o país à democracia, com o 25 de Abril, Mário Soares solicitou a adesão à então CEE (Comunidade Económica Europeia), hoje UE (União Europeia), adesão que se concretizou em 1 de janeiro de 1986.

Como é sabido, a UE atravessa hoje uma crise séria, correndo o risco de fragmentação. Mas importa, pelo menos, salvar o mercado único europeu – com as suas quatro liberdades, de circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais. A pandemia suspendeu, em vários casos, a livre circulação de pessoas na UE, o que se compreende – mas essas barreiras começam agora a ser eliminadas.

Depois da crise da “troika” muitas empresas portuguesas notabilizaram-se pelos seus sucessos exportadores. Agora, algumas dessas e de outras empresas poderão encontrar obstáculos em mercados como o norte-americano. Mas é essencial que o mercado único europeu permaneça aberto e seja completado, em particular na área dos serviços. Até porque, sem isso, muito dificilmente um investidor estrangeiro colocará um cêntimo em Portugal.