Acusada da morte de homem no Algarve culpa ex-companheira
24-02-2021 - 16:35
 • Lusa

Mariana Fonseca acedeu em prestar declarações ao Tribunal de Portimão, impondo como condição que a outra arguida, Maria Malveiro, saísse da sala. Dupla responde pelo homicídio de Diogo Gonçalves, para ficar com herança.

Uma das mulheres acusadas da morte de um homem em março de 2020, no Algarve, negou hoje em tribunal o envolvimento no homicídio, atribuindo a autoria do crime à outra arguida, sua ex-companheira.

Na primeira sessão do julgamento, Mariana Fonseca acedeu em prestar declarações ao Tribunal de Portimão, impondo como condição que a outra arguida, Maria Malveiro, saísse da sala, pedido que o tribunal aceitou.

Perante o coletivo de juízes, Mariana, enfermeira, de 24 anos, afirmou "que em momento algum" teve a ver com a morte de Diogo Gonçalves, de 21 anos, e que se pudesse "voltar atrás" teria feito "muitas coisas de forma diferente".

A arguida reconheceu, no entanto, ter participado na ocultação do cadáver de Diogo - cujos restos mortais foram encontrados em Sagres e em Tavira -, mas alegou ter sido aliciada por Maria a fazê-lo, atribuindo-lhe, também, o desmembramento do corpo.

Segundo a acusação, as arguidas, acusadas por homicídio qualificado, profanação de cadáver, acesso ilegítimo, burla informática, roubo simples e uso de veículo, teriam como objetivo aceder aos cerca de 70 mil euros de indemnização que Diogo recebeu pela morte da mãe, atropelada em 2016.

A enfermeira descreveu em tribunal que no dia em que ocorreu o crime, em 20 de março de 2020, chegaram as duas a casa de Diogo Gonçalves, em Algoz, Silves, cerca das 14:00, tendo-se lá dirigido a pedido de Maria, de 21 anos, na altura sua companheira, para que o informático lhe instalasse umas colunas no carro.

"Fiquei no carro a dormitar enquanto a Maria foi ao interior da casa e voltou, minutos depois, a dizer que precisava de ajuda", referiu Mariana, justificando o cansaço por ter terminado um turno no Hospital de Lagos, onde trabalhava.

Segundo a arguida, quando entrou na casa, encontrou Diogo "inconsciente" e "preso numa cadeira", o que a fez entrar em "pânico" e ficar "sem noção" do que se estava a passar.

"Verifiquei se tinha pulso e como não tinha, reanimei-o. Estava deitado sobre a cadeira, no chão, de barriga para cima", disse, acrescentando que após as manobras de reanimação, Diogo levantou-se e empurrou-a, tendo Maria pedido que saísse dali.

E prosseguiu: "Fui para o quarto e quando regressei à sala ele estava pálido, com marcas no pescoço e inconsciente, ao que a Maria me pediu para lhe ver o pulso, o que verifiquei, e não o vi a respirar".

Segundo a enfermeira, Maria pediu-lhe para a ajudar a limpar o local e tirar o corpo dali, para "ninguém saber" que lá tinham estado, o que fez. Depois, a segurança "embrulhou o corpo num cobertor e levou-o para a casa de banho", relatou.

Admitindo ter acesso fácil a medicamentos no Hospital de Lagos, onde trabalhava, Mariana negou, contudo, ter fornecido fármacos para adormecer a vítima, tal como consta na acusação, que refere ter sido utilizado diazepam para sedar Diogo.

Segundo Mariana, foi Maria quem desmembrou o corpo na garagem da casa que ambas partilhavam e para onde levaram o cadáver, no Chinicato, em Lagos. Afirmou, no entanto, desconhecer que a companheira pretendia apropriar-se do dinheiro da vítima.

De acordo com a enfermeira, foi também a segurança quem cortou "dois dedos" ao informático, de forma a aceder ao seu telemóvel para efetuar e validar transferências bancárias através de uma aplicação.

"Não queria utilizar [os cartões bancários] nem que fosse transferido dinheiro para a minha conta, mas a Maria insistiu [para fazer uma transferência] e eu acedi, o que aconteceu com cerca de 350 euros", relatou, admitindo ainda ter feito um levantamento com o cartão do jovem no multibanco do Hospital de Lagos.

Segundo a acusação, as duas arguidas desfizeram-se do corpo no dia 25 de março, facto que a enfermeira reconheceu, dizendo ter sido aliciada por Maria a deslocarem-se a Tavira, onde depositaram partes do cadáver.

Segundo Mariana, foi a segurança quem colocou as partes do corpo do jovem "em sacos de lixo e os atirou por uma ribanceira no Pego do Inferno, em Tavira", tendo as restantes partes do corpo sido abandonadas em Sagres, no extremo oposto do Algarve.

A arguida relatou ainda que a ex-companheira tentou matá-la, enquanto dormia, na noite em que levaram o corpo de Diogo para casa, colocando-lhe "os braços à volta do pescoço e apertando com força", mas Maria alegou tratar-se de um "sonho".

O julgamento prossegue durante a tarde no Tribunal de Portimão.